quarta-feira, 27 de abril de 2016

Contra o golpe e em defesa da Petrobras e do pré-sal, petroleiros articulam greve geral (Fonte: Rede Brasil Atual)

"São Paulo – O Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro SP) realiza hoje (27) assembleia com trabalhadores da refinaria de Paulínia, na região de Campinas. Na pauta, a construção de uma greve geral contra o avanço do processo golpista, que tem como alvos principais a privatização da Petrobras e a entrega às multinacionais do controle das reservas do pré-sal, além de retrocessos sociais com ataques a direitos trabalhistas.

Na noite de ontem (26), em debate na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na capital paulista, a coordenadora geral do Sindipetro SP e secretária de Juventude da CUT, Cibele Vieira voltou a defender a mobilização das bases e também da sociedade contra o golpe. "A Petrobras e o pré-sal são os alvos principais desse golpe em curso, que trará retrocessos sociais com perda de direitos. Por isso, o petróleo é uma questão que diz respeito a toda a sociedade e não apenas aos petroleiros", disse.

Cibele criticou disputas internas no comando da empresa, a pressão por lucros, o programa de demissão voluntária e o projeto de venda de 30% dos ativos. "Chega-se ao absurdo de querer vender campos de petróleo em terra. Vamos ter cidades fantasmas no Nordeste. Sem falar que querem vender a Transpetro e até os dutos, essenciais para o processo produtivo. Como levar o petróleo para as refinarias?"

Segundo ela, esses projetos reforçam junto à opinião pública a falsa ideia de crise da empresa e sua incapacidade para condução da exploração do pré-sal, contribuindo para o discurso dos que defendem sua total privatização. "A Petrobras tem dinheiro. Aumentou caixa em 46% no ano passado só com a emissão de títulos. Ninguém quer comprar títulos de empresa que está falindo. E o que pesa na contabilidade são as obras paradas pela Lava Jato, que são lançadas como prejuízo."

A gravidade da situação, principalmente da tramitação do processo de impeachment no Senado com o relatório nas mãos do tucano Antonio Anastasia, requer mobilização conforme a dirigente. "Ou a gente se mobiliza e prepara para o que está por vir, ou a gente vai ver se perder tudo isso que a gente conseguiu segurar. Por que o golpe não se limita em trazer de volta o neoliberalismo de FHC. É uma onda de ódio. É o fim da CLT, sindicato fora das negociações trabalhistas."

"A solução é fortalecer a mobilização até porque a direita está assustada, envergonhada de ser chamada de golpista. Não contava com nossa resistência nesses dois anos de avalanche da Lava Jato e com nossa presença nas ruas. Estamos conseguindo colocar mais gente nos atos dos que eles."

No último dia 19, após a votação na Câmara que autorizou o Senado a abrir o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) anunciou a construção da paralisação total da categoria como meio de resistência ao avanço do processo golpista.  Na ocasião, o coordenador-geral, José Maria Rangel afirmou que o afastamento de Dilma poderá acelerar a venda de ativos da empresa e retirar a obrigatoriedade da companhia ser operadora das áreas do pré-sal, nas bacias de Campos e Santos.

Soberania
Participante do debate que discutiu a centralidade da disputa pelo petróleo na onda golpista, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Igor Fuser destacou a capacidade da Petrobras na exploração do pré-sal. E falou sobre a importância do controle brasileiro dessas reservas – as maiores já descobertas em todo o mundo nos últimos 30 anos – para o desenvolvimento e soberania do país.

"Apesar do discurso de analistas da imprensa conservadora, alinhados com interesses de empresas estrangeiras, o petróleo ainda é estratégico em todo o mundo. Por isso está no centro de disputas, guerras e golpes de estado em todo o mundo. Para o Brasil, representa a soberania e ainda o desenvolvimento social. Os ganhos vão além da extração do óleo. É toda a cadeia, com incremento da indústria naval, que ressurgiu das cinzas depois do sucateamento dos anos FHC, chegando a criar 78 mil empregos; infraestrutura, serviços, melhores empregos para os brasileiros".

Ele destacou a capacidade técnica da Petrobras na exploração e de definir o ritmo de produção, conforme capacidade e preços no mercado internacional. E atacou os interesses por trás de reservas descobertas em 2007 pela empresa brasileira e que já produzem mais de 1 milhão de baris diários. "A Petrobras foi pega numa conjunção de fatores, espécie de tempestade perfeita, marcada pela eleição da Dilma. A direita se comporta com o tubarão, maior predador dos mares: vai nadando calmamente até sentir o cheiro do sangue, quando se transforma na fera voraz. A direita sentiu o cheiro de sangue: queda dos preços no mercado internacional, desvalorização do real, endividamento da empresa e assim por diante, Lava Jato e assim por diante. É o golpe."

Na avaliação de Fuser, a cobertura da mídia internacional, que tem divulgado reportagens em que que chama de golpe de estado o processo em andamento no país, e o apoio de organismos internacionais fortalecem a resistência do ponto de vista tático. "Estão mostrando a fragilidade da democracia; a história está pegando mal lá fora. Mas não podemos nos iludir. No longo prazo, ninguém vai fazer nada. A Argentina está na mãos de Macri, no Uruguai, há um governo meia boca.  A mídia internacional está aí mas sabemos quem são os seus donos. Se a coisa degringolar, com instabilidade, vão mudar o discurso e dizer que somos uma república de bananas."

No campo interno, ele destacou o peso da burguesia, maciça, em defesa da posição golpista. "Aqueles setores q em certa analise teriam interesse em defender projetos desenvolvimentistas na verdade nunca  se preocuparam com desenvolvimento do país. Estão todos do lado de lá porque preferem ser ser sócios menores do imperialismo".

Quanto ao papel dos setores conservadores no golpe em curso, Fuser comparou o papel da Rede Globo e do Judiciário à Operação Brother Sam, desencadeada pelos Estados Unidos para apoiar financeiramente o golpe de 1964. A ação, conforme afirmou mais tarde o embaixador Lincoln Gordon, incluía forças militares, além de porta-aviões, para o caso de resistência armada.

"Os Estados Unidos nem precisam se envolver visivelmente. Sua mão aparece por meio de informações da Cia, do FBI, ao juiz Sérgio Moro, ao procurador-geral Rodrigo Janot e companhia."

Sem deixar de lado a polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que deu munição para os articulares do golpe, Fuser a classificou como mau negócio historicamente defendido pela direita. "A empresa se enrolou fazendo justamente o que era preconizado pelo governo neoliberal de FHC, de investir no exterior em vez de investir no Brasil e em seu desenvolvimento, como queriam os trabalhadores e os setores progressistas."

Tiro no pé
Dirigente do movimento popular de luta por moradia Brigadas Populares, filiada à Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, Sammer Siman afirmou entender que a direita vem perdendo terreno na disputa pelo golpe desde  a votação na Câmara, no dia 17.

"Foi um tiro no pé. Em horário nobre a sociedade viu o que é o Congresso. Percebeu que há uma crise política, e não um problema de um governo ou de um partido. Mas temos de desmascarar tudo o que implica um governo da natureza de Temer, a ofensiva anunciada no Ponte para o Futuro, que chamo de ponte para o abismo."

Para ele, além de intensificar a mobilização, é preciso que os setores progressistas sejam propositivos, apresentando alternativas para a crise. "Isso tem sido mal trabalhado por nós. E temos de avançar para além de limites, numa mobilização em torno de um programa para taxar os rico, auditar a dívida pública e da Petrobras, enfim, daquilo que traga mudanças, supere dependências."..."

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