"Sempre soubemos que o Globo apoiou a ditadura. Não só isso, que foi um dos articuladores mais astutos e agressivos do golpe de Estado de 64. Basta ler as edições da época para saber disso. O jornal sempre esteve ao lado dos golpistas. Foi um dos pilares midiáticos da “República de Galeão”, que resultou no suicídio de Getúlio e depois se aliou, sempre, aos movimentos conspiradores que visavam derrubar a ordem democrática.
Entretanto, os documentos agora revelados pela blogueira Helena Sthephanowitz trazem uma denúncia ainda mais grave. Roberto Marinho, o proprietário do jornal O Globo, pertencia à cúpula dos conspiradores que trabalhavam pelo endurecimento do regime. Era Marinho que fazia a ponte entre o embaixador Lincoln Gordon, notoriamente pro-golpe e pró-ditadura, e um grupo fechado de conspiradores que defendiam a quebra da promessa, do próprio Castelo Branco, de realizar eleições em 1965.
Cada vez fica mais claro que o Globo não deu apenas um “apoio editorial” à ditadura, como admitiu o próprio jornal, em editorial recente. O Globo participava, na pessoa de Roberto Marinho, do núcleo que defendia o arbítrio mais violento, mais sujo, mais antidemocrático. Dentre os grupos que defendiam o regime, Marinho integrava a facção mais reacionária e golpista.
Pior, Marinho conspirava também com a embaixada norte-americana e era considerado, por Lincoln Gordon, a fonte pró-golpe mais confiável no país.
Nos EUA, a confirmação da mão de Roberto Marinho nos bastidores da ditadura
Em telegrama ao Departamento de Estado norte-americano, embaixador Lincoln Gordon relata interlocução do dono da Globo com cérebros do golpe em decisões sobre sucessão e endurecimento do regime
por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual.
Embaixador Gordon descreve em detalhes ao Departamento de Estado dos EUA a influência de Marinho
No dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão golpista.
Segundo relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.
No início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.
Revista do Brasil: parece que foi legal, mas foi golpe
No encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de jornais.
No dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.
Lincoln Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho.
O histórico de apoio das Organizações Globo à ditadura não dá margens para surpresas. A diferença, agora, é confirmação documental."
Fonte TIJOLAÇO
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