Nesta quinta-feira (24/5), a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) apresentou em São Paulo um estudo que propõe a inclusão das usinas a vento no MRE hidrelétrico – que, com isso, se tornaria um MRE hidroeólico. O documento que aponta a viabilidade da ideia foi elaborado pela consultoria Engenho, que analisou históricos de vento e chuvas.
A sócia-diretora da Engenho, Leontina Pinto, conta que foi procurada pela Abeeólica para elaborar um estudo sobre a complementaridade entre as próprias eólicas, o que resultaria num MRE eólico. Tal formato, porém, não mostrou viabilidade, ao mesmo tempo em que a parceria com as hidrelétricas foi vista como favorável.
Segundo Leontina, há mais vento justamente nos momentos em que não há chuva, o que faz com que as fontes se completem e "praticamente acabem com o risco hidrológico". Para ela, as próprias hidrelétricas gostarão da ideia, uma vez que elas, dentro do mecanismo, cederiam energia às eólicas em momentos de falta de vento, quando há água nos reservatórios - o que torna essa energia "barata". E receberiam compensações no período seco, com geração "cara", quando os aerogeradores giram com mais força.
Em uma simulação que levou em conta toda a última década, a Engenho chegou à conclusão de que um pequeno montante de geração a vento teria ajudado o País em 2001, quando houve racionamento de energia. Hoje, a criação do MRE hidroeólico poderia ajudar a reduzir o uso de termelétrcas para manter o nível dos reservatórios. "As eólicas geram justamente no período seco, que é quando o Operador Nacional do Sistema (ONS) liga as térmicas", aponta Élbia Melo, presidente-executiva da Abeeólica.
A dirigente afirma que já teve conversas com a Associação dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) e com a Associação dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape) sobre o assunto, uma vez que os geradores podem ser os mais afetados pela ideia. Segundo ela, as entidades mostraram interesse, uma vez que, além de trazer ganhos também para as UHEs, a medida beneficia os investimentos em eólicas, que hoje estão na mira da maioria dos agentes do setor elétrico.
Para Elbia, a criação do MRE deve agradar também ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por oferecer mais segurança nos contratos e facilitar o fechamento de negócios no mercado livre. Isso porque, com a garantia do mecanismo, o gerador poderia oferecer uma curva estável de carga aos clientes.
A abertura desse nicho, aliás é o principal objetivo da Abeeólica com o MRE. Elbia cita um estudo da consultoria Andrade&Canellas segundo o qual o ambiente livre tem espaço para viabilizar cerca de 4GW em usinas eólicas. Além de poder oferecer preços maiores para as usinas do que os últimos leilões realizados pelo governo. Os principais compradores da energia do vento seriam os consumidores livres que, com demanda entre 0,5MW e 3MW, podem comprar somente de fontes renováveis.
O "próximo passo", desafiador, é o estabelecimento de uma garantia física "confiável" para as usinas a vento. Hoje, essa garantia é declarada pelos próprios empreendedores e, algumas vezes, colocada em dúvida devido ao desempenho dos parques já em operação no País e aos altos fatores de capacidade declarados pelos projetos que participaram dos últimos leilões.
"Agora estamos desenvolvendo essa metodologia para o cálculo da fatantia física. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já está fazendo isso", aponta Elbia. Segundo ela, a criação da fórmula é rápida, algo de "dois ou três meses".
O que pode levar a uma demora, e que faz com que a Abeeólica não trace previsões sobre a aprovação ou não do pleito, é a necessidade de aval do Ministério de Minas e Energia, uma vez que a medida passaria pela alteração do decreto que cria o MRE. Quem acompanha o ritmo de decisão da pasta em assuntos como o vencimento das concessões do setor elétrico e a liberação de venda de excedentes por consumidores livres sabe que a espera pode ser longa."
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