Apesar da clara desaceleração da atividade econômica, o emprego resiste. A renda real subiu 0,7% em janeiro e alcançou R$ 1.672, o valor mais elevado para o mês. Nível de desocupação também é o menor em igual período » VÂNIA CRISTINO Com emprego garantido e salário em alta, os brasileiros começaram 2011 com o pé direito. O rendimento médio dos trabalhadores bateu recorde para meses de janeiro, alcançando R$ 1.672,20, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta foi de 0,7% em relação a dezembro e de 2,7% ante janeiro de 2010. A taxa de desemprego, por sua vez, ficou em 5,5% no primeiro mês do ano. Embora seja maior do que o índice verificada em dezembro último, de 4,7%, também é a menor da série histórica iniciada em 2002 para janeiro. Segundo o IBGE, que faz a Pesquisa Mensal de Emprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país, a elevação dos salários foi generalizada. A exceção foi o Rio de Janeiro, onde o rendimento caiu 1,6% no mês. Em contrapartida, houve alta expressiva em Recife, de 7,3%, puxada por aumentos de até 23,4% no setor de serviços, que inclui hospedagem, recreação e alimentação, além de 11,5% na indústria. A região metropolitana de Recife tem peso de 12% na fórmula de cálculo do rendimento médio do trabalhador. Em São Paulo, com maior participação na mostra, os salários variaram apenas 0,1%. Em Salvador, subiram 3%; em Belo Horizonte, 1,7%; e em Porto Alegre, 4%. O gerente da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, disse que Recife pode ser um ponto fora da curva. No seu entender, a amostra que o instituto toma como base para a pesquisa é sempre rotativa e pode ter pegado em Recife justamente os trabalhadores de rendimento mais alto, o que afetou o resultado final. "Aumentos fora do padrão podem ser por causa da amostra e podem ser corrigidos ao longo do tempo", explicou. As observações do gerente do IBGE não convenceram o economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo. Professor da PUC-Rio e um dos maiores especialistas em mercado de trabalho, Camargo argumentou que a rotatividade da amostra é constante na pesquisa e que, por isso, não deveria causar esse efeito. De qualquer forma, ele salienta que o resultado, mesmo excluindo Recife, foi altamente positivo, resultado de um mercado de trabalho que continua aquecido apesar de a economia como um todo estar crescendo a taxas mais baixas. "Com o desemprego em queda aumenta muito o poder de barganha do trabalhador", afirmou. De acordo com o IBGE, também contribuiu para esse quadro a menor dispensa de trabalhadores temporários, que costumam ter menores salários que os trabalhadores efetivos. No mês passado, a economia foi capaz de reter essa mão de obra. Hora de consumir As amigas Elayne Pereira, 24 anos, e Raquel Dias, 19, desempregadas desde o segundo semestre do ano passado, não param de comemorar a vaga tão esperada de atendentes de telemarketing. O novo emprego foi conquistado em janeiro. O salário é o mínimo, R$ 622, mas, com ele, elas pretendem investir nos estudos e consumir. Elayne contou que, já de posse do primeiro rendimento, pagou uma parte das dívidas. Agora, se sente mais confortável para comprar algumas roupas e um celular. Raquel é mais controlada, mas já tem um destino certo para o dinheiro que receberá. "Vou guardar uma parte do salário para investir nos meus estudos e o que sobrar, gastar com o que tiver necessidade, sem ficar endividada", afirmou. Para Silvia Marques, o emprego de vendedora de loja caiu do céu. Ela estava sem renda fixa há sete meses e, no mês passado, recebeu o primeiro salário, de R$ 750. Com dinheiro no bolso comprou roupas e uma câmera digital. "Sei que poderia ter gastado menos, mas depois de tanto tempo sem consumir nada, não resisti", confessou. O desemprego em baixa deve continuar ao longo do ano, embora, até maio, por conta de fatores sazonais, a taxa deva seguir em alta, mas em percentuais menores do que os verificados nos mesmos meses de 2011. Pelos cálculos de José Márcio Camargo, se o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 3% este ano, a taxa de desemprego cairá, em média 0,45 ponto percentual, ficando em torno de 5,5% em 2012. No ano passado, a taxa de desemprego fechou em 6%. Um dado interessante da PME de janeiro foi a redução expressiva da atividade de serviços domésticos. O setor desempregou 65 mil trabalhadores, uma queda de 4,2%. O que aparentemente é uma má notícia, mostra apenas, na avaliação do economista Cimar Azeredo, que a população antes ocupada nesse setor está tendo melhores oportunidades no mercado. Indústria demitiu Nem todos os setores geraram emprego em janeiro. Enquanto os serviços e o comércio mostraram dinamismo, a indústria caminhou em sentido contrário e cortou vagas. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram dispensados no mês passado 23 mil trabalhadores. Também houve corte de 75 mil vagas no setor de serviços prestados a empresas, que abrange empregos terceirizados da indústria. A queda foi de 2% em relação a dezembro. "Os serviços prestados são de intermediação financeira, terceirizados, consultorias. Foi a primeira vez que o emprego nesse setor caiu de forma expressiva", disse Cimar Azeredo, gerente da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE."
Nenhum comentário:
Postar um comentário