segunda-feira, 28 de março de 2011

“Interferência política afeta ações da Vale” (Fonte: O Globo)

“Ingerência política eleva risco de ações da Vale
Autor(es): Lucianne Carneiro


Com a decisão do Bradesco de ceder à pressão do governo para tirar Roger Agnelli da presidência da Vale, as atenções dos investidores se voltam agora para o nome do sucessor. O temor de indicação de um nome político para o comando da segunda maior mineradora do mundo, no entanto, deve afetar nos próximos dias as ações da empresa, que este ano acumulam queda de até 3,95% na Bolsa de São Paulo. A principal preocupação é de que a estratégia da companhia mude para atender a interesses do governo, que defende mais investimentos no beneficiamento do minério de ferro.
Expectativa por definição de executivo que substituirá Roger Agnelli deve deixar papéis instáveis no curto prazo.

A escolha do substituto de Roger Agnelli na presidência da Vale deve influenciar as ações da empresa nos próximos dias. A cada vez que surgem novos rumores sobre a saída do executivo, os papéis têm sido afetados. A principal preocupação é que os rumos da companhia sejam desviados por interesses políticos. Analistas acreditam que, se for escolhido um profissional que já atue na empresa ou em outra grande companhia, o impacto sobre as ações será suave. Se, por outro lado, a interferência do governo acabar gerando a indicação de um nome político, os papéis tendem a sofrer mais.

Na última sexta-feira, o Bradesco cedeu à pressão do governo e decidiu apoiar a saída de Agnelli da presidência da Vale, após reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da Previ, Ricardo Flores. Empresa, governo e acionistas, no entanto, ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto. A atuação de Agnelli vinha gerando descontentamento no governo, que prefere que a empresa invista mais no beneficiamento do minério de ferro.

O analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, acredita que a notícia da saída do executivo da mineradora ainda deve pesar nas ações, até que se defina quem será o substituto.

- A saída dele (Agnelli) já estava precificada (no jargão do mercado, incluída nas estimativas de preço), há um ano esperava-se que ele fosse deixar a Vale. O problema é quem vai entrar. Se for alguém de dentro da empresa, o mercado respira. Esta notícia deve pressionar os papéis, sim - diz Galdi.

Temor é de que interesse de acionistas seja afetado

Outro analista que acompanha de perto a mineradora e pediu para não ser identificado lembra que o mercado se estressou sempre que as notícias de pressão para a saída de Agnelli circulavam. A principal questão, segundo ele, é que nem sempre os interesses do governo coincidem com os dos acionistas da Vale. Por isso, se for escolhido um nome sob influência política, pode colocar em risco os ganhos para os acionistas.

O temor de ingerência política é um dos fatores que pesam nas ações da Petrobras, por exemplo. O fato de a estatal não repassar imediatamente a alta dos preços do petróleo no mercado internacional para a gasolina é um indicador de uso político, já que o preço do combustível poderia influenciar negativamente a inflação.

- Sempre que os rumores voltaram ao mercado, as ações foram afetadas, mas depois a situação se tranquilizou - diz o analista.

Isso ocorreu na última sexta-feira. Os papéis preferenciais (PNA, sem direito a voto) da Vale chegaram a cair 0,91% durante o pregão, depois da notícia de que o Bradesco iria apoiar a saída de Agnelli, mas acabaram fechando com queda de apenas 0,04%, a R$52,86. Já as ações ordinárias (ON, com direito a voto), preferidas dos investidores estrangeiros, atingiram a mínima de R$46,47 ao longo do dia - com recuo de 1,30% -, mas encerraram o pregão praticamente estáveis, com elevação de 0,02%, a R$46,88.

Na avaliação da Planner Corretora, a troca no comando da Vale é um dos fatores que têm influenciado a oscilação dos papéis, mas não é o único. Outros aspectos são o impasse sobre a cobrança de royalties do minério de ferro - o governo e a Vale travam uma briga para o pagamento de algo em torno de R$4 bilhões - e a própria saída de investidores estrangeiros da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - que acaba afetando ações mais líquidas, como as da mineradora.

A tendência, segundo a corretora, é que as ações passem a reagir melhor no momento em que surgir um nome de peso para substituir Agnelli. Por causa do interesse dos controladores, a Planner vê poucas chances de o governo emplacar um nome político para a presidência da mineradora.”




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