"Carmen Lussi afirma que a ideia do brasileiro hospitaleiro é retórica ufanista
Brasília – Ao contrário do mito de que o povo brasileiro é cordial e prestativo ao atender estrangeiros, na prática discrimina os imigrantes. A afirmação é da doutora em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Puc-RJ) Carmen Lussi, durante palestra do Simpósio Internacional Migrações e Trabalho, na quarta-feira (26), em Brasília. Para a pesquisadora e ex-coordenadora da Organização Internacional para Migrações (OIM), a ideia do Brasil hospitaleiro é falsa e não passa de retórica ufanista.
Carmen Lussi participou do painel Formulação Legal e Políticas Públicas no Trato das Migrações Nacionais e Internacionais, junto com a antropóloga e consultora do Senado Federal, Márcia Sprandel, e do advogado João Guilherme Lima, especialista em políticas públicas e representante do Ministério da Justiça. “O pior é que o brasileiro médio nem percebe como trata mal um estrangeiro. Mas o negro sabe o que é isso. Sabe como o imigrante se sente”, frisou Carmen.
Na visão da pesquisadora, o pensamento comum é o de criminalizar a migração. “É como se estrangeiros fossem sempre os piores, os criminosos. E a imprensa colabora, noticiando que determinado bairro teve aumento de criminalidade, onde há concentração de moradores estrangeiros”. De acordo com Carmen Lussi, a legislação do país sobre o tema é desatualizada, com foco na segurança nacional e na ideia pré-concebida de que os imigrantes representam ameaça ao país.
Desafios – Deixar de atribuir aos migrantes os males do país é mais um dos desafios sociais e jurídicos a serem enfrentados. “Este tema é novo no âmbito das políticas públicas no Brasil, o que nos coloca numa fase de aprendizagem do que o fenômeno representa e do seu significado para o país. Um boliviano escravizado em São Paulo, por exemplo, não é um problema jurídico, mas migratório. O fato de ser boliviano não muda nada”, frisou.
Carmen Lussi elegeu três prioridades para enfrentar a questão. Entre elas está a governança e um processo participativo de dialogo. Outro aspecto é o atendimento, mas não somente aos recém-embarcados no Brasil, mas também ao que vivem há anos no país e estão em vulnerabilidade. “Todos sabemos que faltam guichês. Além disso, é necessário ter sala de acolhimento e acesso ao sistema de justiça e à educação. E por último, precisamos saber qual a sociedade que queremos em termos de pluralidade. A imigração mexe em temas velhos. Política migratória é também política pública”, enumera.
Promovido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), o simpósio ocorreu na quarta (26) e quinta-feira (27), no Memorial JK, em Brasília, e contou com sete painéis que abordaram aspectos diferentes da situação migratória e de trabalho no mundo, em especial no Mercosul. O público do evento foi formado pela comunidade acadêmica, advogados, juízes, estudantes de direito, relações internacionais e ciência política, além de Organizações Não Governamentais (ONGs). O simpósio teve parceria da Embaixada da Argentina, Universidade de Campinas (Unicamp) e Prefeitura de Manaus."
Fonte: MPT-DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário