"Novo salário mínimo vai injetar na economia R$47 bilhões, diz Dieese
Autor(es): agência o globo:Paulo Justus
O Globo - 28/12/2011
Reajuste para R$622 beneficia 47 milhões e estimula consumo no país
SÃO PAULO. A entrada em vigor do novo salário mínimo de R$622 em 1º de janeiro de 2012 deve injetar R$47 bilhões na economia brasileira, segundo estimativa divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Considerando o valor de R$545 em março de 2011, o novo mínimo teve um reajuste nominal de 14,13%; descontada a inflação no período, o ganho real chega a 9,2% para o trabalhador.
Economistas estimam que o novo piso salarial não pressionará as contas públicas. Tampouco deve ter um grande impacto na inflação, num momento em que o Banco Central (BC) ainda luta para levar a taxa para o centro da meta (de 4,5%).
Segundo o Dieese, o aumento de R$77 do salário mínimo trará uma despesa adicional de R$19,8 bilhões sobre a folha de benefícios da Previdência Social do próximo ano, calculado a partir de uma estimativa de R$257 milhões por ano para cada R$1 de aumento no mínimo. A arrecadação sobre o consumo, segundo a entidade, deve mais que compensar esse gasto e crescer R$22,9 bilhões.
- O aumento está perfeitamente dentro das possibilidades das contas públicas. O governo tinha, inclusive, espaço para arredondar o salário para R$625, como já fez em anos anteriores - diz José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
No caso da inflação, ao contrário do que ocorreu neste ano (em que a renda maior se refletiu num aumento do consumo e da inflação de serviços), o ganho salarial de 2012 deve ser destinado mais ao pagamento de dívidas, segundo o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, Nicola Tingas. Isso porque a desaceleração da economia ao longo de 2011 já se refletiu na queda de consumo no Natal e veio combinada a uma maior inadimplência:
- Mesmo antes do aumento do salário mínimo, a renda líquida já havia diminuído, por causa da inflação e do aumento da renda comprometida com pagamentos parcelados.
Ganho real de 9,2% é o 2º melhor nos últimos 10 anos
A demanda por serviços, que exerceu a maior pressão na inflação ao longo de 2011, também deve arrefecer por causa desse comprometimento de renda, de acordo com Tingas. O professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antonio Corrêa de Lacerda também acredita que a pressão sobre os serviços em 2012 será menor que a registrada este ano. Ainda assim, diz que a alta dos preços dos serviços deve ficar acima da média geral de inflação.
- Apesar de ficar acima da média no próximo ano, a alta dos preços de serviços deve ser compensada por uma desinflação dos preços das commodities e dos produtos industrializados. Por isso, acredito que a inflação deve fechar o ano no centro da meta definida pelo governo, de 4,5% ao ano - afirma Lacerda.
Os principais setores beneficiados pela alta do mínimo devem ser o alimentício e o de bens de consumo semiduráveis, como calçados e vestuário. Essas são as indústrias mais sensíveis ao ganho salarial da população de baixa renda, segundo Oliveira.
O reajuste do mínimo deve atingir 47,6 milhões de pessoas, entre beneficiários da Previdência e trabalhadores. Mais da metade das pessoas empregadas no Brasil (50,3%) recebe até um salário mínimo. A proporção dos beneficiados é maior nas regiões Norte, onde chega a 63,2%, e Nordeste, onde 63,2% das pessoas estão nessa faixa de renda. O reajuste real de 9,2% é o segundo melhor dos últimos dez anos, atrás apenas dos 13,04% registrados em 2006."
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