sexta-feira, 18 de março de 2016

População está contaminada por ambiente fanático, diz Comparato (Fonte: Rede Brasil Atual)

"São Paulo – O jurista Fábio Konder Comparato acredita que os grupos que operam contra a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva veem no juiz Sérgio Moro um “salvador da pátria”, e isso tem uma razão: “A mediocridade da liderança política da oposição é total”.

Considerado um dos maiores juristas do país, Comparato se posicionou duramente em 2009, quando o jornal Folha de S. Paulo utilizou o termo "ditabranda", em editorial, para se referir ao período de ditadura no país (1964-1985).

Por ter afirmado que "o autor do vergonhoso editorial, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro”, foi ofendido pelo diário, que chamou a indignação do jurista de “cínica e mentirosa”, já que, segundo o jornal da família Frias, não expressou o mesmo “repúdio a ditaduras de esquerda”.

Comparato é autor de vários livros, como A Civilização Capitalista e Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. Ele conversou por telefone com a RBA.

Estamos à beira de uma conflagração social? A Constituição foi rasgada?

Acho que vai acabar pior do que está. Não se sabe qual a razão desse descontrole fanático e ninguém sabe qual a solução.

Como vê a conjuntura, com a Rede Globo chamando a população a sair às ruas, o telefone da presidente da República grampeado e a gravação divulgada?

No Brasil sempre quem dominou foi um grupo oligárquico, formado por potentados econômicos privados, ultimamente associados aos grandes agentes estatais. O povo nunca participou efetivamente do processo político, para tomar decisões. Sempre foi posto à margem. E todas as nossas crises vêm do conflito que se dá dentro desse grupo oligárquico. No caso atual, o que acontece é que o grupo empresarial e os grupos políticos que não são do PT, inclusive partidos que se dizem da esquerda, estão conflagrados com o PT.

O que eles querem é um bode expiatório, no caso, o Lula, ligado à sua sucessora. E querem também um salvador da pátria, que será unicamente o Sérgio Moro, porque a mediocridade da liderança política é total. Não há ninguém na oposição que tenha um mínimo de apoio popular. Então vamos assistir a uma débâcle. E não há meio de parar isso. O Judiciário vai acabar se curvando, a meu ver, a essa pressão.

O sr. não vê luz no fim do túnel?

Não.

Qual o significado do fato de um juiz federal que participou de atos contra Dilma suspender a posse de Lula no ministério?

Mas aí é como o episódio do Joaquim Barbosa no Supremo. O Judiciário, que sempre foi subordinado do Executivo, agora resolveu pôr as barbas de fora e o que se vê é isso, o Sérgio Moro transformado em herói nacional. Ele cometeu muitos e muitos atos contra a ética da magistratura e contra a própria lei processual e a Constituição Federal. Mas isso não tem a menor importância para o ambiente fanático que tomou conta da população.

O Conselho Nacional de Justiça não serve para nada, então?

O Conselho Nacional de Justiça não vai impedir isso tudo de jeito nenhum. Eles não têm força, porque tudo agora virou política."

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