Autor(es): » VICENTE NUNES » VÂNIA CRISTINO
Correio Braziliense - 29/02/2012
A guerra interna pelo poder no Banco do Brasil irritou Dilma Roussef, que decidiu intervir. O BB também terá que investigar a quebra de sigilo bancário de ex-diretor
Descontente com a guerra por poder que está minando o BB, a presidente determina a Mantega mudanças no comando da Previ
A presidente Dilma Rousseff mandou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, demitir Ricardo Flores da presidência da Previ, o fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil. O Palácio do Planalto identificou que o executivo, responsável pela administração de um patrimônio superior a
R$ 150 bilhões, é o principal responsável pela guerra por poder que engolfou o BB e está contaminando a Fazenda e parte da base aliada do governo. Entre Flores, que é ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e o presidente da instituição financeira, Aldemir Bendine, que está na outra ponta da disputa, tanto Dilma quanto Mantega optaram por substituir o primeiro. "A irritação com Flores chegou ao limite", disse ao Correio um importante assessor do Planalto.
Flores e Bendine não se falam há quase um ano. Depois de uma longa convivência — foi Bendine quem apoiou a nomeação de seu desafeto para a vice-presidência de Crédito do BB antes de ele ir para a Previ —, os dois resolveram disputar quem é mais influente dentro do governo. O problema é que eles se juntaram a grupos de parlamentares do PT descontentes com a gestão de Dilma, espalhando boatos e minando votações no Congresso importantes para o Planalto, como o projeto que cria o fundo de previdência dos servidores públicos. O auge do descontentamento se deu em janeiro, após o presidente do BB demitir 13 diretores de uma só vez. Até o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reclamou.
Autonomia
A ideia do governo é usar as mudanças na diretoria executiva e no Conselho Deliberativo da Previ, previstas para maio próximo, para substituir Flores, sem causar grande barulho. Está previsto o fim do mandato do presidente do Conselho, Robson Rocha, que responde pela vice-presidência de Gestão de Pessoas do BB, e de dois outros conselheiros. Ligado ao PT, Rocha deverá ser reconduzido ao cargo, com a missão de promover alterações na gestão executiva do fundo de pensão. Pelo estatuto da Previ, o Conselho tem total autonomia para nomear e destituir diretores que tocam o dia a dia da fundação, incluindo o presidente executivo, Ricardo Flores, cujo mandato acaba em 2014.
Quem acompanha as negociações garante que o BB, patrocinador da Previ, já escolheu os dois futuros conselheiros, além de ratificar a recondução de Robson Rocha. No entanto, ainda não está fechado o nome do possível substituto de Flores, que vem se articulando politicamente para reverter a decisão de Dilma. "Ele tem muitos contatos no PT e no PMDB, os dois maiores partidos da base aliada do governo. Portanto, tudo pode acontecer, a despeito de a presidente Dilma não costumar muito recuar em suas decisões", disse um outro assessor palaciano.
Pelas regras em vigor, o BB tem direito a indicar três representantes para o Conselho Deliberativo e três para a diretoria executiva. Os funcionários do banco dispõem da mesma prerrogativa, pois há a chamada paridade. Mas o presidente do Conselho detém maior poder. Cabe a ele o voto de minerva. Como um juiz, pode votar duas vezes. Isso ficou claro no início do anos 2000, quando a Previ sofreu a primeira intervenção de sua história por estar envolvida em uma série de irregularidades. A fundação, por sinal, faz silêncio sobre a crise que envolve seu presidente."
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