segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

#Israel: Ativista de direitos humanos é preso por realizar protesto contra o bloqueio à Faixa de #Gaza (Fonte: The Guardian)

Segue abaixo notícia publicada hoje pelo jornal britânico The Guardian, acerca de prisão de ativista de direitos humanos por Israel. Jonathan Pollak foi condenado a 3 meses de prisão somente por ter participado de protesto contra o bloqueio à Faixa de Gaza. A notícia não recebeu a divulgação devida por parte da imprensa brasileira:

 

“Israeli activist imprisoned for protest against Gaza blockade

Jonathan Pollak handed three-month term after taking part in Tel Aviv protest cycle ride in January 2008

The prominent Israeli activist Jonathan Pollak was today sentenced to three months in prison by a Tel Aviv court for taking part in a bicycle demonstration against the blockade of Gaza almost three years ago.

Human rights activists condemned the prison term, saying it was an unusually harsh punishment for a charge that usually results in a non-custodial sentence.

Pollak, 28, is one of the founders of a leftwing Israeli group called Anarchists against the Wall, which demonstrates with Palestinian activists in the occupied territories.

In January 2008, he participated, along with 30 others, in a "critical mass bicycle ride" through Tel Aviv. During the demonstration, police arrested Pollak but allowed the rest of the activists to continue with the protest, his lawyer said.

Pollak remained defiant after sentencing. "I have no doubt that what we did was right and, if anything, not sufficient considering what is being done in our name," he said in a telephone interview. "If I have to go to prison to resist the occupation, I will do it gladly."

Pollak described his sentence as "part of the general deterioration in the right to dissent from the general Israeli discourse regarding the occupation".

His lawyer, Gaby Lasky, who defends many activists arrested while protesting against Israeli policies in Gaza and the West Bank, said the sentence was unusual.

"It is not common that someone found guilty of illegal assembly will be sent to prison," said Lasky, who has worked in this field for eight years.

"We are in the midst of a high wave of detentions of activists," she added. "The criminalisation of leftwing demonstrations is a policy these days".

An official at the court of first instance in Tel Aviv, who asked to remain anonymous, said it was extremely rare for judges to hand down a jail sentence in an illegal assembly case.

The official pointed out, however, that Pollak had three previous convictions, including one for "distraction of order and vandalism", and a three-month suspended sentence for demonstrating against the West Bank separation barrier.

The Israeli police and the ministry of justice declined to comment.

The Association for Civil Rights in Israel criticised the sentence. "Placing Pollak behind bars because of his participation in the critical mass bike ride is an extreme punishment and an unusually harsh measurement," Dan Yakir, the organisation's chief legal adviser, said in a statement.

"The entire affair raises suspicion that Pollak was personally targeted because of his views in an attempt to silence him and prevent him from partaking in various acts of protest."”

 

Extraído de http://m.guardian.co.uk/world/2010/dec/27/israeli-activist-imprisoned-demonstration-gaza?cat=world&type=article

 

#Itaú Unibanco amplia liderança de queixas; #BB em 2o., #Bradesco em 3o. (Fonte: #Sindicato #Bancários SP)

"São Paulo – O Itaú Unibanco manteve em novembro pelo segundo mês seguido o primeiro lugar do ranking do Banco Central de reclamações de clientes. Em segundo permaneceu o Banco do Brasil. As duas empresas se destacaram ainda mais na liderança da lista.Para calcular o ranking, que leva em conta os bancos com pelo menos 1 milhão de clientes, o BC estipula um índice relacionando o número de reclamações procedentes pelo total de clientes. O Itaú Unibanco ficou com índice 0,72 e o Banco do Brasil com 0,63. Em terceiro lugar ficou o Bradesco, com 0,38; em quarto está o Santander, com 0,37 e, em quinto, o HSBC, com 0,23.O Itaú Unibanco ampliou sua liderança, já que registrou 0,69 em outubro. O Banco do Brasil ficou praticamente estável, pois teve 0,64 no mês anterior. Os dois aumentaram a distância para o terceiro colocado, que em outubro foi o Santander com 0,56."

Entrevista: gestão de José Eduardo Cardozo na Justiça vai fortalecer o Cade (Fonte: Valor Econômico)

Por Paulo de Tarso Lyra e Juliano Basile,
no Valor Econômico

Quando assumir o Ministério da Justiça, em 1º de janeiro, José Eduardo Martins Cardozo tomará decisões que vão interferir diretamente no cotidiano das empresas. Sob a sua gestão, os órgãos antitruste do governo passarão por uma revolução.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) será reforçado e será criada a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, com mais status do que o atual departamento que cuida dessa área e mais poder para atuar contra abusos cometidos por grandes companhias.

Essa mudanças devem ser implementadas em seis meses, previu Cardozo em entrevista ao Valor. As operações da Polícia Federal no combate a cartéis também vão ser intensificadas, disse.

O novo ministro defendeu maior participação do governo e do Congresso nas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF). Esse é outro assunto em que ele vai atuar no curto prazo, pois a presidente eleita Dilma Rousseff deverá indicar um ministro para o STF logo nos seus primeiros dias de seu mandato. Cardozo pretende ser um interlocutor importante nessa escolha.

O ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff avalia que a corrupção está impregnada no Estado brasileiro. Ele vê avanços nas ações da PF que levaram a prisões de governadores, prefeitos e empresários, mas acredita que ainda existe a mentalidade de o ocupante de cargos públicos achar que deve faturar algo com isso. Para ele, essa é uma cultura que precisa mudar, pois a corrupção afeta diretamente a criminalidade. Cardozo acha que o dinheiro da corrupção vai direto para o crime organizado.

A seguir, leia os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: Qual será o foco de ação do Ministério da Justiça no governo Dilma?
José Eduardo Martins Cardozo: O eixo central será a segurança pública e o combate ao crime organizado, até por ser uma das diretrizes de governo definidas pela presidente Dilma Rousseff. Mas, o direito econômico e outras áreas sempre tiveram importância. Hoje, temos a Secretaria de Direito Econômico (SDE) e o Cade. A partir do ano que vem, o Cade terá mais poderes e novas atribuições. Isso vai obrigar a uma reformulação da SDE. A tendência é que a secretaria passe a cuidar exclusivamente dos interesses do consumidor.

Valor: Como será implementada essa mudança?
Cardozo: Hoje, as unidades de defesa do consumidor já têm uma atuação importante, mas elas vão crescer em dimensão. Ainda não temos uma definição da reconfiguração técnica da nova secretaria, mas ela vai ter mais estrutura para atuar. Acho que teremos uma definição no prazo de seis meses.

Valor: O que vai mudar no Cade?
Cardozo: Haverá uma atuação mais forte englobando competências que hoje cabem ao Ministério da Fazenda e à SDE. Acredito que o Cade vai ser fortalecido e exercer as suas competências com maior eficiência.

"Uma boa investigação não
se coaduna com o espetáculo.
Ela exige sigilo, discrição e eficiência"

Valor: Durante o governo Lula, houve muitas operações de combate a cartéis com o auxílio da Polícia Federal. Elas vão continuar a partir de janeiro?
Cardozo: Os três ministros que passaram pela Justiça [Márcio Thomas Bastos, Tarso Genro e Luiz Paulo Barreto] tiveram a mesma linha de atuação para fortalecer a PF. Não há porque mudar. Vamos continuar agindo da mesma forma. Essas operações do governo Lula continuam e vão ser intensificadas.

Valor: A PF sofreu duras críticas por causa da exposição de pessoas presas à mídia, durante as operações. Qual será a orientação nesses casos?
Cardozo: Eu diria que a espetacularização das atividades policiais deve ser duramente repelida. Uma boa investigação não se coaduna com o espetáculo. Ela exige sigilo, discrição e eficiência na busca de provas. A espetacularização fere direitos individuais, leva a pré-julgamentos e a linchamentos.

Valor: A OAB reclama muito que os direitos dos acusados estão sendo feridos por essas ações da PF. Como o senhor pretende conduzir a sua relação com a OAB?
Cardozo: Não existe democracia sem advogados que possam atuar na defesa dos direitos daqueles que são acusados. A relação precisa ser harmoniosa. Quando surgirem tensões, elas devem ser resolvidas com diálogo, abertura e transparência.

Valor: Uma das queixas da OAB é a de que as conversas dos presos com os advogados não deveriam ser monitoradas.
Cardozo: Direitos devem ser preservados e garantidos, mas temos de encontrar a melhor forma de combater o crime organizado. Não podemos ser ingênuos e municiadores de ações criminosas na sociedade. Esse diálogo só se consegue com respeito mútuo entre os órgãos públicos e as entidades.

Valor: A Ordem também é contra a realização de depoimentos por teleconferência.
Cardozo: Muitos acham que isso impede o juiz de ter a percepção efetiva do que aconteceu. Mas, eu, pessoalmente, sou favorável. Eu acho que a tecnologia não pode ser desprezada. Ela facilita as ações judiciais.

Valor: Sempre que surge algum grande caso de violência, há mobilização no Congresso, que acaba aprovando leis imediatas contra o crime. Como o senhor vê a política legislativa para a segurança pública?
Cardozo: Não podemos encarar a segurança pública de maneira reativa, fazendo mudanças de afogadilho para dar uma resposta à opinião pública. É preciso um pacto verdadeiro que leve ao fim da violência, em três níveis: União, Estados e municípios. Nem sempre essa relação é dissecada pelos estudiosos, pois há muitos conflitos sobre quem pode e quem deve fazer o quê. Segurança pública envolve ações preventivas e repressivas, envolve medidas legislativas, judiciais e executivas. Não podemos entender a segurança pública no sentido estrito, mas no amplo.

Valor: Como superar esses conflitos entre o governo federal e os estados na área de segurança?
Cardozo: É necessária uma articulação com Estados e municípios. Cada ente da federação tem um papel a cumprir. Há situações que só podem ser conduzidas pela União, como a fiscalização das fronteiras. Outras só pelos Estados, como o policiamento local. Se não integrarmos a atuação, dificilmente teremos um salto nessa questão.

Valor: O senhor acha que o combate à criminalidade está muito politizado?
Cardozo: A criação de super heróis pode ser um obstáculo para a formação de um pacto nessa área. Seria dizer eu sou o ministro da Justiça, o homem que pode resolver o assunto. Ora, não é por aí. Uma segunda questão é superar as divergências político-partidárias. Temos Estados governados por integrantes de diversos partidos. Se pensarmos que as questões não podem ser resolvidas para não gerar dividendos eleitorais, nunca teremos um pacto verdadeiro. É hora de buscarmos mais convergências e menos disputas políticas. Esse pacto vai ser buscado sem alardes, sem a busca de manchetes. O crime exige uma polícia constante, uma estratégia que deve ser articulada, mas não para atender a opinião pública.

Valor: Mais de 70 órgãos públicos, reunidos na Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), pediram ao Congresso a aprovação de uma nova lei de combate à lavagem de dinheiro e outra que tipifica as organizações criminosas, mas elas simplesmente não são votadas.
Cardozo: O aperfeiçoamento legislativo do país é de vital importância. Além dessas leis, precisamos aprovar um novo Código de Processo Penal para agilizar procedimentos judiciais, sem prejuízo ao direito de defesa. Temos também a Lei Orgânica da PF, a modificação de leis que dificultam a aplicação de sanções a policias que participam de crimes. Tudo isso exige uma ação integrada. A nossa ideia é criar propostas comuns para serem debatidas pelo Parlamento.

Valor: E com relação ao Judiciário? O senhor vai assumir a pasta da Justiça com ministros do STF se sentindo desprestigiados pelo Executivo, pois eles esperam, desde agosto, pela indicação de um novo ministro. Além disso, como o STF se dividiu na extradição do italiano Cesare Battisti, qualquer que seja a decisão do presidente Lula, ela vai gerar descontentamentos na Corte.
Cardozo: Eu ainda não sou o ministro. O ministro é o Luiz Paulo Barreto e ele vai exercer a sua função. O presidente da República pode a qualquer momento indicar um integrante para o STF e decidir sobre Battisti. Eu já me pronunciei sobre o caso na tribuna da Câmara dos Deputados, mas, neste momento qualquer comentário seria indelicado.

"Para evitar o abuso de poder,
é necessário dividir o poder.
Só o poder limita o poder"

Valor: É comum o Ministério da Justiça indicar nomes de ministros para o Supremo Tribunal Federal. Como o senhor pretende agir nessas indicações?
Cardozo: Acho absolutamente natural que o Ministério da Justiça manifeste sua opinião à presidente Dilma. Mas, claro que a nomeação caberá a ela. Agora, eu não creio que a relação com o STF se resuma a isso. O STF é a principal Corte do país e o Executivo deve tratar o STF numa relação de compreensão e parceria. A orientação do ministério será a de caminhar em estreita parceria não só com o STF, mas também com o STJ e com toda a magistratura federal.

Valor: O modelo de indicação de ministros para o STF deve ser revisto? Só o presidente Lula fez oito indicações e, hoje, tem seis nomes entre os 10 ministros.
Cardozo: Esse modelo está previsto na Constituição Federal. Eu acho que não precisa mudar. O fundamental é que o Executivo e o Legislativo sejam cada vez mais criteriosos na escolha dos nomes que vão integrar as cortes superiores. Eles têm o dever de avaliar os nomes. Esse cuidado é fundamental e deve ser muito bem exercido.

Valor: Como o senhor vai conduzir os momentos de tensão e de discordância entre o governo e o STF?
Cardozo: Eu diria que é absolutamente normal que tenhamos momentos de tensão entre o Executivo e o Judiciário, entre o Judiciário e o Legislativo. Montesquieu sugeriu a divisão dos Poderes justamente por achar que todo homem que detém o poder dele vai abusar. Para evitar o abuso de poder, é necessário dividir o poder. Só o poder limita o poder. Agora, essa situação gera tensões adicionais. A tensão é natural. O principal é saber equacioná-la. Eu acho que debates prévios podem levar a percursos inúteis. O papel dos magistrados é o de, ao surgirem tensões, ter a grandiosidade de saber equacioná-las.

Valor: Combater a corrupção no Poder Público é mais difícil do que combater os traficantes dos morros do Rio?
Cardozo: O crime organizado é sempre difícil de ser combatido. Não existe crime organizado sem aparelhamento do Estado, sem a conivência de autoridades. E quanto maior essa conivência, mais difícil o combate ao crime. A corrupção tem uma relação intrínseca com o combate ao crime organizado. Ele pressupõe o aprimoramento contínuo do aparato do Estado.

Valor: Concorda com a avaliação de que o governo Lula não conseguiu combater a cultura da corrupção na máquina pública?
Cardozo: O governo Lula não conseguiu algo que talvez seja de fato impossível de conseguir. Imaginar que o governo Lula mudaria uma tendência histórica é querer que tenha poderes mágicos. Mas, ele teve um papel importantíssimo. Nunca tivemos um enfrentamento tão forte nessa questão. Tivemos governadores, prefeitos, empresários presos. Nós não tivemos procuradores-gerais que arquivavam processos, não tivemos no governo Lula engavetadores gerais da Republica. Isso colocou luz no problema.

Valor: Por que o senhor disse que é impossível extinguir completamente a cultura da corrupção na máquina pública?
Cardozo: A cultura não republicana de apropriação privada do que é público vem do Brasil Colônia. Não podemos ser ingênuos. Às vezes, é mais fácil derrubar um governante do que mudar uma cultura.

Valor: É uma cultura generalizada?
Cardozo: Ela é histórica. No Brasil, nas mais diversas funções, há a apropriação privada dos bens públicos. Síndicos de prédios desviam dinheiro dos condôminos, funcionários de companhias privadas lesam os patrões para não serem considerados idiotas. Quando acabou o mandato da prefeita Luiza Erundina, na prefeitura de São Paulo, eu fui secretário de governo e um amigo perguntou o que eu faria. Eu disse que daria aula e ele perguntou: "Por quê? Você precisa manter as aparências?" Questionei se ele achava que eu era ladrão. E ouvi a seguinte resposta: "Se não for, é porque foi um idiota". Infelizmente, o "rouba, mas faz" é da base da nossa cultura. E não se modifica cultura por decreto.

Valor: Para o senhor, o combate à corrupção está ligado à violência e à criminalidade. Por que a sociedade não liga uma coisa à outra? Cardozo: A pessoa que paga uma propina para um policial não multá-la não percebe que está alimentando um sistema de corrupção que favorece o crime organizado. A sociedade não percebe que, ao aumentar a roda viva da corrupção com propinas, está colocando em risco a própria vida e dos familiares. A corrupção gera violência.

Valor: O senhor já está formando sua equipe? Vai trazer mais gente da PUC-SP ou da USP?
Cardozo: Convidei o atual ministro, Luiz Paulo Barreto, para ser meu secretário-executivo e ele aceitou. Para os outros cargos, ainda estou pesquisando e analisando, inclusive para a direção da Polícia Federal. Meu critério vai ser o de buscar pessoas com boa capacitação e competência técnica. Se for da USP, da PUC, de outros estados, isso não importa muito.”

"'O Globo' distorce Wikileak para atacar Reforma Agrária" (Fonte: #MST)

“Da Página do MST

O professor Clifford Andrew Welch, do curso de história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi citado como fonte das informações de telegramas remetidos por diplomatas estadunidenses no Brasil aos Estados Unidos, divulgados pelo Wikileaks.

O jornal O Globo publicou uma reportagem sobre esses telegramas, no domingo passado (19/12), dando destaque a existência de espiões do MST dentro do Incra e sobre uma suposta prática dos assentados “de alugar a terra de novo ao agronegócio”.

“Nunca falei e jamais falaria algo assim. No primeiro lugar, a palavra ‘espião’ é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais”, denuncia Welch.

Leia também
Os telegramas do Wikileaks, a mídia e o MST
-artigo do analista Igor Fuser
HUMOR: Entrevista com o “espião” no Incra - do blog da Reforma Agrária

Em relação ao aluguel de áreas de assentados ao agronegócio, o professor da Unifesp destaca que a coordenação nacional do MST é declaradamente contra a prática e que a declaração aparece sem contextualização.

“Fora de contexto, assim como apresentado no despacho diplomático, o aluguel dos lotes parece ser de fato “cínico e irônico.” O relatório não contempla a pressão das usinas nos assentados, com oferta de dinheiro fácil para o plantio da cana de açúcar, que tem causado muitos problemas aos assentados, como demonstram várias pesquisas realizadas pela Unesp”, pontua.

Welch rebate também a tese de que os movimentos de sem-terra, especialmente o MST, entraram em declínio durante os oito anos do governo Lula, apresentando dados que demonstram que no caso das ocupações de terras e do número de famílias envolvidas na luta pela terra, as estatísticas dos governos FHC e Lula se equivalem.

“Durante os oito anos do governo Cardoso, 571.650 famílias participaram em 3.876 ocupações organizadas por mais que 20 movimentos. Os números do governo Lula ainda não foram calculados totalmente, mas durante os primeiros sete anos, são registrados a participação de 480.214 famílias em 3.621 ocupações”.

Abaixo, leia esclarecimento do professor.

Wikileaks, a imprensa, o MST e eu

Por Clifford Andrew Welch
Prof. Dr. Ajunto do Curso de História
da Universidade Federal de São Paulo

Demorou. Em abril de 2007, pedi pessoalmente uma cópia do relatório do investigador dos Estados Unidos da América que me entrevistou sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Pedi de novo por email em setembro, mas nem resposta recebi, muito menos o documento.

Foi o grupo Wikileaks que recentemente revelou os resultados dos andamentos do agente estadunidense no Pontal do Paranapanema, São Paulo, e meu nome estava no meio das reportagens que saíram nos jornais nos dias 19 e 20 do mês atual.

Como coordenador ajunto do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em abril de 2009, confesso que estava pouco animado com a visita do Vice Consul Benjamin A. LeRoy do Consulado Geral dos EUA, em São Paulo, quando nos pediu uma hora para “conhecer o trabalho do Nera e aprender um pouco mais sobre reforma agrária e movimentos sociais de sem-terra,” como nos escreveu a assistente de assuntos políticos do consulado, Arlete Salvador.

Como historiador especializado em estudos da política externa dos EUA na América Latina, já conhecia figuras como LeRoy e seus relatórios. Eram fontes importantes para entender a natureza da interferência do império em sua esfera de influência.  Agora o disco virou e era eu a fonte. Fiquei assustado com os erros do relatório de Benjamin, a distorção dos fatos interpretados pelo cônsul-geral Thomas White e, mais uma vez, preocupado com o método empírico do historiador, que depende demais em documentos oficiais e notas jornalísticas. 

Faz sentido confiar em um investigador que nem sabe onde estava ou com quem estava falando? O despacho que relata a investigação de Benjamin usa a sigla Uneste no lugar da sigla Unesp e dá como a minha afiliação institucional a Universidade de Michigan, ambas afirmações equivocadas.

Pior, ainda, é a fala atribuída a mim por Benjamin e relatado pelo White que ficou como manchete no Globo: “MST teria espiões no Incra para orientar invasões”. Nunca falei e jamais falaria algo assim. No primeiro lugar, a palavra “espião” é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais.

No “telegrama” em questão de 29 de maio, White escreveu que “O MST segue uma metodologia programada em suas ocupações de terra que inclui a utilização de contatos dentro do Incra para ajudar selecionar alvos, segundo [...] Welch.” 

Em outro momento, o cônsul relata que eu o informei de que “o MST aproveita contatos dentro do Incra para determinar qual será a próxima área sujeito a desapropriação.”  Segundo o relato, “Welch contou para Benjamin que o Incra não disponibiliza as informações ao público e que o único jeito para o MST acessar os dados seria através de informantes dentro do Incra.”

O jeito como o cônsul interpretou o relato de Benjamin de coisas que não falei sobre as relações entre o MST e o Incra reflete mais do macartismo que a realidade do Brasil. Macartismo é a ideologia do “medo vermelho” que causou alarme nos EUA nos meados do século passado quando foi alegado que espiões russos infiltrados no setor público estavam minando a segurança nacional do país.

A atual situação no Brasil não tem nada ver com a Guerra Fria, obviamente. O dever constitucional do Incra é fazer reforma agrária. O MST procura pressionar para que o Incra realize a reforma agrária.

É bom lembrar, como falei para o Benjamin, que as informações do Incra são públicas para todo mundo. Me lembro que tentei explicar para o Benjamin que a maioria das ocupações do MST não foram realizadas em maneira aleatória, mas a partir de áreas com desapropriação em andamento. Quer dizer, o movimento faz esforço para colaborar com o processo constitucional de identificação de terras improdutivas ou sujeito a desapropriação por violar as leis trabalhistas ou ambientalistas. É o cônsul que inventou um sentido de clandestinidade.

No mesmo documento de abril, que tem o titulo “O método do MST: Tira proveito do governo, alienar os vizinhos,” o cônsul toma vantagem da investigação do Benjamin para alegar que membros do MST que ganham lotes de reforma agrária do Incra vão acabar “alugando ao agronegócio” a terra “numa pratica cínica e irônica.” A fonte para esta informação parece ter sido “um líder do agronegócio” em Presidente Prudente.
Fora de contexto, assim como apresentado no despacho diplomático, o aluguel dos lotes parece ser de fato “cínico e irônico.”

O relatório não contempla a pressão das usinas nos assentados, com oferta de dinheiro fácil para o plantio da cana de açúcar, que tem causado muitos problemas aos assentados, como demonstram várias pesquisas realizadas pela UNESP. A coordenação nacional do MST é declaradamente contra a prática.

São outros erros de fato e interpretação nos documentos e noticias. A Folha aproveitou o esvaziamento dos documentos para alegar que o MST está em “declínio,” que a “base do movimento encolheu.” O Globo dá destaque para um suposto abandonou da causa da luta pela terra pelo presidente Lula, uma interpretação que apareça nos telegramas do White. 

Porém, é difícil sustentar estes argumentos. De fato, os cálculos das estatísticas do governo Lula bem como os do Nera sustentam o contrário, mostrando de que Lula assentou mais famílias que o presidente Fernando Henrique Cardoso que declarou ter feito mais para reforma agrária que qualquer outro presidente brasileiro, mas o governo Lula defende que assentou 59 por cento dos beneficiários de reforma agrária na história do Brasil.

No caso das ocupações de terras e o número de famílias envolvidas na luta pela terra, as estatísticas são quase iguais. Durante os oito anos do governo Cardoso, 571.650 famílias participaram em 3.876 ocupações organizadas por mais que 20 movimentos. Os números do governo Lula ainda não foram calculados totalmente, mas durante os primeiros sete anos, são registrados a participação de 480.214 famílias em 3.621 ocupações.

Temos que agradecer Wikileaks por quebrar o sigilo que ainda reina nos círculos diplomáticos décadas depois do final da Guerra Fria. Em meu caso, deu para desmentir fatos equivocados e desconstruir interpretações anacrônicas, inclusive das reportagens da grande imprensa.”

Extraído de http://www.mst.org.br/A-palavra-espiao-invencao-do-Globo-afirma-professor