sábado, 25 de fevereiro de 2012

"Ministério Público espera que PEC do Trabalho Escravo seja logo aprovada" (Fonte: Jornal do Brasil) 

"Luiz Orlando Carneiro, Brasília , Jornal do Brasil
24/02

O procurador-geral do Trabalho, Luís Antônio Camargo, disse nesta sexta-feira ao Jornal do Brasil que, finalmente, há uma "expectativa favorável" de que a chamada base aliada na Câmara dos Deputados se mobilize para dar prioridade à votação da proposta de emenda constitucional (PEC 438/2001) que prevê o confisco de propriedades rurais onde forem constatadas "condutas que favoreçam ou configurem trabalho forçado ou escravo, com a reversão dessas áreas aos programas de assentamento de colonos".

Segundo o chefe do Ministério Público do Trabalho, a ministra Maria do Rosário, secretária de Direitos Humanos, garantiu-lhe que a própria presidente Dilma Rousseff vai se empenhar para que a bancada governista vote logo a PEC do Trabalho Escravo, que já passou pelo crivo do Senado, e tramita desde 2001 na Câmara, onde foi aprovada, em primeiro turno, em agosto de 2004. Ele lembra ainda que o atual líder do PT naquela Casa do Congresso, Jilmar Tatto (SP), já se manifestou favoravelmente sobre a necessidade de aprovação urgente da PEC 438.

O procurador-geral do Trabalho, Luís Camargo

CPI

Luís Camargo também aguarda a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o trabalho escravo no país, proposta no ano passado pelo deputado Claudio Puty (PT-PA), e já assinada pelo presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS).

"A instalação desta CPI vai aumentar a pressão necessária para que a PEC do Trabalho Escravo seja aprovada, em debate democrático, apesar da resistência da bancada ruralista, à frente a Confederação Nacional da Agricultura, que quer fazer crer que trabalho escravo é uma invenção, não é crime, mas simples caso de irregularidade trabalhista", afirma o procurador-geral do Trabalho.

Condições degradantes

Luís Camargo ressalta, por outro lado, que o Ministério Público do Trabalho tem recebido muitas denúncias desse tipo de crime em áreas urbanas, onde empregados são encontrados em "condições de trabalho degradantes". E explica que isto se deve, principalmente, à reforma do Código Penal, de dezembro de 2003.

O artigo 149 do CP, que tipificava o crime, apenas, como o de "reduzir alguém a condição análoga à de escravo", passou a ter o acréscimo de "quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho".

Números

De acordo com dados do Ministério do Trabalho, ainda não atualizados, em 2010 foram resgatadas 2.628 pessoas consideradas "em condição análoga à de escravo", um crescimento de 400% em relação a 2000 (516 resgatados). Também cresceu o numero de "estabelecimentos" inspecionados, em sua grande maioria propriedades rurais, mas também empresas urbanas: 88 estabelecimentos em 2000 e 309 em 2010. Já o numero de autos de infração subiu, nos mesmos anos, de 522 para 3.982.

O maior número de trabalhadores resgatados ocorreu em 2003 (6.137 pessoas). De 1995 até 2010, foram resgatados 36.419 trabalhadores em 2.844 estabelecimentos fiscalizados, que pagaram mais de R$60 milhões em indenizações individuais.

O Ministério do Trabalho registra um crescente número de inspeções em áreas urbanas. O caso recente mais conhecido foi em junho, quando o MPT e o Ministério do Trabalho flagraram 51 pessoas (incluindo 46 bolivianos) trabalhando em condições precárias em uma confecção contratada pelas lojas Zara em Americana, no interior paulista. Segundo o MPT, os bolivianos trabalhavam, em média, 14 horas por dia e recebiam o equivalente a R$ 0,20 por peça de roupa produzida.

No início deste mês, foi ajuizada uma ação civil pública contra as Lojas Pernambucanas pelo MPT, depois do resgate de 16 empregados que trabalhavam em condições muito precárias, expostos a fiação elétrica exposta, com risco de curto circuito. Eles dormiam todos juntos, em alojamento sem janelas e sem água potável disponível. A maioria dos trabalhadores era também de origem boliviana."

Extraido de http://m.jb.com.br/pais/noticias/2012/02/24/ministerio-publico-espera-que-pec-do-trabalho-escravo-seja-logo-aprovada/

PEC do trabalho escravo é prioridade para governo (Fonte: Congresso em Foco)

"Foi o que disse a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, no Fórum Social Mundial. Segundo ela, trata-se da principal agenda do Executivo na área de direitos humanos

por Edson Sardinha | 25/02/2012 07:00

Durante o Fórum Social Mundial, realizado em janeiro em Porto Alegre, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, disse que Dilma a orientou a tratar a PEC do Trabalho Escravo como principal prioridade legislativa de sua pasta em 2012. "Essa é a principal agenda política de direitos humanos no Congresso Nacional. Não é uma agenda a mais, mas a principal agenda", disse Rosário.

Quando instalada, a CPI deverá se debruçar sobre a chamada "lista suja" do trabalho escravo, atualizada semestralmente pelo Ministério do Trabalho com a inclusão de empregadores flagrados pela fiscalização. A frente parlamentar também quer usar a comissão como instrumento de pressão para o julgamento dos assassinos de três auditores do trabalho e um motorista, em 2004, no município de Unaí. O prefeito do município, Antério Mânica (PSDB), é acusado de ter encomendado a execução dos servidores.

Em todo o país, 2.271 pessoas foram encontradas em situação degradante de trabalho em 158 operações do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego. As autuações resultaram no pagamento de R$ 5,4 milhões em indenizações trabalhistas e são produto de 320 inspeções feitas pelos fiscais. Desde 1995, quando o grupo foi criado e o trabalho escravo passou a ser enfrentado no Brasil, 41.451 trabalhadores foram resgatados em 1.240 operações.

Primeiro descendente de quilombola a assumir uma cadeira na Câmara, Domingos Dutra diz que esses números mostram o quanto a sexta economia mundial precisa evoluir na superação de sua histórica desigualdade social. "Estamos em um país onde a economia cresce, mas a pobreza não desaparece. A renda ainda não está chegando ao brasileiro. A concentração da terra continua quase a mesma, intocada. Falta muito para a gente bater no peito e se orgulhar de ter um país justo", diz o deputado maranhense."

Extraido de http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/reportagens-especiais/pec-do-trabalho-escravo-e-prioridade-para-governo/?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed:+congresso+(Congresso+em+Foco)

#Terceirização avança sobre direitos trabalhistas (Fonte: @CarosAmigos)

"TRABALHO X CAPITAL

Por Caio Zinet

A cada mês, milhares de empregos tem sido gerados no Brasil, a ponto do ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), afirmar, em novembro de 2011, que o Brasil pode chegar ao pleno emprego em 2012. Quando olhados isoladamente, tais números passam a impressão de que o mercado brasileiro está excelente. No entanto, é necessário avaliar quais são as condições de tais vagas de trabalho.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou, em agosto do ano passado, uma pesquisa sobre o crescente processo de terceirização no Brasil e seus efeitos sobre o mercado de trabalho. O número de trabalhadores terceirizados no Brasil chega a 10 milhões de pessoas, o que equivale a 25,5% do mercado de trabalho formal. O discurso adotado pelas empresas e propagado pela grande mídia sustenta que a terceirização permite que a produção seja orientada apenas para a atividade fim daquela empresa. Dessa forma, outras atividades como limpeza, alimentação e segurança são terceirizadas para outras companhias que realizam apenas aquele tipo de serviço. De acordo com tal visão, portanto, a terceirização é uma ferramenta administrativa que otimiza a produção, liberando-a de cuidar de assuntos que não são relativos a atividade fim da empresa. O aumento de produção, por sua vez, acarretaria em um aumento da qualidade do trabalho com garantia de mais direitos sociais, e melhores salários.

Para ler o artigo completo e outras matérias confira a edição 179 da revista Caros Amigos, já nas bancas."

Extraido de http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/component/content/article/164-edicao-179/2522-terceirizacao-avanca-sobre-direitos-trabalhistas

Novo CPC vai trazer normas gerais de processo eletrônico, adianta sub-relator (Fonte: Agência Câmara)

"Relatório do deputado Efraim Filho será entregue no dia 13 e vai incluir no projeto do novo Código de Processo Civil princípios gerais para a prática de atos eletrônicos, além de mecanismos de incentivo à mediação nos tribunais.

A proposta do novo Código de Processo Civil (PL 8046/10) vai trazer princípios para nortear e uniformizar o uso da tecnologia no andamento dos processos judiciais, adiantou o sub-relator da parte geral do projeto, deputado Efraim Filho (DEM-PB). "O novo CPC vai dar a diretriz para a prática de atos processuais eletrônicos e caberá a leis especiais e normas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criar regras específicas para adaptar o Judiciário à velocidade das transformações tecnológicas", explicou.

A parte geral do novo CPC, sob relatoria de Efraim Filho, recebeu 355 emendas.

Efraim ressaltou que um novo código não pode abdicar de tratar de um tema que já é realidade na maioria dos tribunais. A inclusão de princípios do processo eletrônico no novo CPC foi reivindicada por especialistas em audiência pública realizada em dezembro do ano passado.

O deputado está fazendo os ajustes finais no relatório sobre a parte geral, que deverá ser apresentado à comissão especial do novo CPC no próximo dia 13. A proposta foi dividida em cinco sub-relatorias, de acordo com a divisão do projeto: parte geral; processo de conhecimento e cumprimento da sentença; procedimentos especiais; execução; e recursos.

De todas as sub-relatorias, a parte geral, que trata de normas gerais e princípios que deverão ser aplicados no processo civil, foi a que recebeu o maior número de emendas. Segundo Efraim, das 900 emendas, 355 são voltadas a esse segmento da proposta. O projeto do novo CPC foi elaborado por uma comissão de juristas e já foi aprovado pelo Senado.

Efraim adiantou ainda que quer alterar o texto para incentivar a contratação de conciliadores e mediadores pelos tribunais, com o objetivo de estimular os acordos. "Queremos tornar a contratação desses profissionais mais efetiva, fazer que haja, de fato, um trabalho direcionado à mediação e conciliação", afirmou.

Bens dos sócios
Outro ponto que deverá ser aperfeiçoado é o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, uma inovação do projeto que garante a defesa prévia dos sócios nos casos em que a suspeita de fraude ou abuso permita que os bens desses acionistas sejam atingidos em processos contra a companhia.

Se houver fraude, a Justiça pode responsabilizar os sócios por danos causados pela empresa e exigir que as indenizações e os ressarcimentos sejam quitados utilizando o patrimônio dos sócios. Atualmente, essa desconsideração é realizada por decisão do juiz e depois pode ser contestada pelos sócios.

O objetivo das mudanças nesse ponto, de acordo com Efraim, é tornar a lei o mais clara possível e preservar os investimentos no País. "Queremos garantir a segurança jurídica nas relações dos contratos. É importante que o Brasil tenha um ordenamento jurídico consolidado, claro e preciso sobre o tema para evitar que uma legislação ambígua afaste investimentos", disse."

Extraido de http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/409828-NOVO-CPC-VAI-TRAZER-NORMAS-GERAIS-DE-PROCESSO-ELETRONICO,-ADIANTA-SUB-RELATOR.html

Assédio Moral: Uma jornada de trabalho perigosa (Fonte: @CarosAmigos)

"MA JORNADA DE TRABALHO PERIGOSA

Por Tatiana Merlino

Imagine que por não conseguir atingir uma meta de produção imposta por seu chefe, ele te obrigue a rebolar em frente de toda a equipe. Ou, como punição, você tiver que caminhar segurando um pênis de borracha, vestir roupas de palhaço, dançar "na boquinha da garrafa", passar por um "corredor polonês". Ou, ainda, chegar ao trabalho e encontrar uma tartaruga em sua mesa. Os exemplos são muitos. São reais. E atuais.

A prática do assédio moral no trabalho, de acordo com o consenso internacional, consiste num conjunto de condutas abusivas e se caracteriza por humilhações de chefes em relação a seus subordinados "que se dão inúmeras vezes de forma sistemática atingindo a dignidade e a personalidade das pessoas, fazendo-as sofrer, ter baixa autoestima a ponto de, em muitos casos, levar ao suicídio", explica o psicólogo Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de Campinas (Unicamp).

Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição 179 da revista Caros Amigos, já nas bancas."

Extraido de http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/component/content/article/164-edicao-179/2529-assedio-moral-uma-jornada-de-trabalho-perigosa

Otimo artigo em ingles sobre dilemas do trabalho digital: http://t.co/kGKVmIgr (dica do interessante @brcakedt)

A quem se interessa por discussoes acerca da exploracao do trabalho na internet, recomendo o artigo "Digital labor is the new killer app", de Adam Fish e Ramesh Srinivasan, do Departamento de Antropologia da UCLA.

A dica e' do "Intercâmbio de Conhecimentos Brasil Canada: Desenvolvendo Letramentos Transnacionais" (no Twitter e' @brcakedt), um excelente projeto de @centregcs e @dlbrydon (http://bit.ly/yOopfM)

Atenciosamente,

Maximiliano Nagl Garcez

Eletricitários: "Taesa [controlada pela #Cemig] prepara 'reestreia' na bolsa" (Fonte: Valor)

"Autor(es): Por Vinícius Pinheiro | De São Paulo

Valor Econômico - 23/02/2012

A Taesa, empresa de transmissão de energia elétrica controlada pela Cemig, se prepara para reestrear no mercado de capitais. A companhia pretende fazer uma oferta pública de ações que deve movimentar pelo menos R$ 1 bilhão. Os bancos BTG Pactual e Bank of America Merrill Lynch serão os líderes da operação, conforme apurou o Valor. Santander e Banco do Brasil, acionistas da companhia por meio do fundo de investimento em participações (FIP) Coliseu, também devem atuar na oferta.

A expectativa é que a empresa use os recursos da capitalização para financiar a compra dos ativos de transmissão da espanhola Abengoa no país, pelos quais pagou R$ 1,16 bilhão. Inicialmente, a Taesa planejava realizar uma emissão de títulos de dívida em reais no exterior, mas com a piora do mercado em razão da crise fiscal europeia acabou optando por uma emissão de notas promissórias - títulos de curto prazo, com vencimento em até um ano - enquanto avaliava as opções à disposição.

Nenhum representante da empresa foi localizado para comentar o assunto. Em entrevista no início do ano ao Valor, o presidente da Taesa, José Aloíse Ragone, confirmou, porém, a intenção de realizar uma oferta de ações até junho. O valor de mercado da companhia é de cerca de R$ 3,8 bilhões.

Com a capitalização, a empresa deve se enquadrar no limite mínimo de 25% do capital em circulação no mercado ("free float"), conforme as regras do Nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa, no qual é listada. Atualmente, menos de 5% dos papéis da Taesa estão na bolsa, que concedeu prazo até o fim de junho para a empresa se adequar à exigência.

A companhia realizou sua oferta pública inicial de ações em outubro de 2006, quando era controlada pela italiana Terna. Em 2009, a Cemig e o FIP Coliseu adquiriram a fatia dos italianos e, no ano seguinte, fizeram uma oferta pública pelos papéis dos minoritários.

A "reabertura de capital" da Taesa será mais um teste da demanda dos investidores por ofertas. As duas primeiras operações do ano na bolsa foram adiadas, uma delas - o da holding de turismo Brasil Travel - em razão da baixa procura pelos papéis. Em entrevista recente, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, afirmou que a janela de oportunidade para as ofertas estava "entreaberta"."

Após morte de adolescente, #MPT pretende processar #Vasco por trabalho infantil (Fonte: Repórter Brasil)

"Procuradora diz que tentou negociar por mais de um ano ajustamento de conduta. Diretoria argumenta que exigências não estão previstas na Lei Pelé

Por Daniel Santini

A morte do adolescente Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, durante teste de futebol no Vasco, em 9 de fevereiro, fez o Ministério Público do Trabalho (MPT) desistir de negociar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e decidir processar o clube. A ação na Justiça terá como base uma série de irregularidades trabalhistas nas categorias de base, incluindo exploração de trabalho infantil, segundo informou à Repórter Brasil a procuradora Danielle Cramer, da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (PRT-1).

Estamos negociando [o TAC] há mais de um ano. O clube toda vez se compromete a assinar, mas não assina. Sempre propõe novas cláusulas. Cansamos de esperar boa vontade e vamos partir para a Justiça", argumenta Danielle. Wendel faleceu de morte súbita enquanto participava de uma seleção para entrar nas categorias de base da equipe.

A tragédia chamou atenção de autoridades para problemas nas categorias de base não só do Vasco, mas em todo o país. Com base no episódio, representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Fórum Nacional pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) e de Conselhos Estaduais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente se mobilizam para intensificar a cobrança por mudanças. O grupo conta com o apoio do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que teme que a exploração de adolescentes no futebol aumente com a realização da Copa do Mundo ao Brasil, e da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Governo Federal.  A OIT defende a reformulação nas categorias de base de todos os clubes brasileiros.

A diretoria do clube ressalta que a morte de Wendel ocorreu em um teste e que, mesmo que as providências exigidas fossem tomadas, dificilmente a tragédia poderia ter sido evitada. "Ele estava participando de um teste leve, não de competição. Era um menino que desde os 9 anos jogava futebol de competição na cidade dele [São João Nepomuceno (MG)]. Tinha sido campeão em todos os anos e foi titular da seleção local. Ele estava aparentemente apto para a prática de esporte. Foi uma grande fatalidade. Se esse menino tivesse falecido em qualquer outro lugar, ninguém estaria falando nada", sustenta Aníbal Rouxinol, vice-presidente jurídico do clube.

Entre os problemas apontados pelo MPT está a ausência de registro dos adolescentes de 14 anos a 16 anos que compõem as equipes de base na categoria de aprendiz, o que, de acordo com as autoridades ouvidas pela reportagem, configura trabalho infantil.

Lei Pelé
O Vasco nega a exploração de adolescentes "Entendo e respeito [o posicionamento das autoridades], mas a Lei Pelé me impede de fazer qualquer registro de menor de 16 anos", coloca o representante jurídico do clube. O artigo 29 da Lei Pelé estabelece que "o atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de prática desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem livremente pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo empregatício entre as partes". Apesar de a Lei Pelé não deixar clara a obrigatoriedade, o artigo 403 da Lei 10.097/2000 é direto quanto à necessidade de registro para adolescentes com mais de 14 anos exercendo atividades profissionais: "É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos".

Rafael Dias Marques, da Coordenação Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes do MPT, diz que não há dúvidas quanto à necessidade de registro para atletas das categorias de base de equipes de futebol. Ao ser informado pela reportagem de que a interpretação de Luiz Henrique Ramos Lopes, da Divisão de Fiscalização do Trabalho Infantil do MTE, responsável por fiscalizar irregularidades, é a mesma que a do MPT, o representante do clube afirmou que tal decisão pode ser revista. "Posso estar enganado. Nada é definitivo. A gente vai discutir esse ponto também, mas acho muito difícil fazermos registro de aprendiz para todos. O Vasco tem hoje inúmeros atletas, o governo federal deveria inclusive nos ajudar. Os clubes atravessam dificuldades no Brasil", diz Aníbal, ainda esperançoso de chegar a um acordo com as autoridades.

"O Ministério Público [do Trabalho] quer fazer um grande evento porque o Vasco é o primeiro clube a assinar um TAC. O Vasco é sempre o primeiro em tudo. Nós vamos assinar. Ficamos de marcar uma data, houve uma série de complicações, a agenda do presidente [e ex-jogador Roberto Dinamite] é muito 'impressada' porque ele é também deputado estadual", completa

Direitos da criança e do adolescente
Além do MPT, o Ministério Público Estadual (MPE/RJ) também cogita processar o clube por violações de direitos da criança e do adolescente. "Estamos estudando se entraremos com as medidas judiciais cabíveis. Acompanhamos a situação há bastante tempo e fomos surpreendidos pela morte deste menino que faleceu em local que não conhecíamos", relata a promotora Clisanger Ferreira Gonçalvez Luzes, que atua junto com a procuradora Danielle no caso.

Em inspeções anteriores realizadas em São Januário, sede do Vasco, Clisanger diz ter encontrando jovens em condições inadequadas, em "dormitórios precários e banheiros em péssimos estados", e ressalta que, apesar da negociação de ajustes em curso, o clube nunca informou as autoridades sobre a existência de outro espaço para treinos e testes de garotos. O Vasco alega que o centro de treinamento onde o adolescente faleceu em Itaguaí (RJ), a 69 km da capital fluminense, ainda não pertence ao clube, apesar de haver uma negociação em curso para sua aquisição. E nega que os atletas da categoria de base tenham sido instalados anteriormente em condições inadequadas.

A morte aconteceu em meio a um dos testes realizados pela equipe para selecionar novos talentos. Cada processo de seleção é composto por três fases. O jovem havia sido aprovado pela primeira e acabou tendo um mal súbito após 12 minutos da segunda fase. Não havia médicos no local. "Entre as adequações que vínhamos cobrando está a observação de direitos mínimos como assistência médica e alimentar durante o período de testes. Ainda que não exista uma relação de trabalho, esses garotos em período de testes tem que ter proteção. A adoção de medidas preventivas poderia evitar ocorrências como esta", complementa a procuradora Danielle. A diretoria do clube comunica que, após o episódio, todos os testes passaram a contar com médicos de plantão por determinação do presidente Roberto Dinamite.


Para a secretária-executiva do FNPETI, Isa Oliveira, o clube errou e tem culpa por não manter médicos de plantão enquanto garotos eram testados em exercícios físicos. "É negligência do clube. Não se garantiu ao adolescente um pronto atendimento médico. É uma questão grave", afirma. O Vasco não pretende indenizar a família pelo ocorrido. Após o episódio, o pai do menino, Antônio Carlos Venâncio da Silva, deu entrevistas isentando o clube de culpa.

"A família precisava de apoio em relação ao óbito, ao enterro. Mandamos dois psicólogos. Com relação à indenização é uma culpa que a gente não pode absorver. Foi uma fatalidade. O pai ficou grato ao Vasco, falou para a imprensa que a atitude do Vasco foi humana, foi perfeita. Vou indenizar como? Por quê? Sei que alguns advogados estão trabalhando a família. Mas tudo que eles precisarem, é só chegar ao Vasco e ao nosso presidente que é ex-atleta, com uma sensibilidade incrível, tudo que a família precisar. Nós só podemos lamentar", resume o vice-presidente jurídico.

Base legal
"Temos defendido a limitação do período de testes, que eles aconteçam durante um breve período no começo do ano para que os alunos não percam o período letivo na escola. Hoje, muitos tentam fazer testes em vários clubes e acabam perdendo o semestre", acrescenta a procuradora do trabalho. "Isso não é só no Vasco. Acontece no Brasil todo. É difícil colocar essa questão. Os clubes visam o alto rendimento e acabam esquecendo que tem ali um adolescente que, além de jogar futebol, tem outros direitos", completa.

O MPE/RJ também considera que o problema não se limita ao Vasco e pretende estender a fiscalização a outros clubes. "Os clubes exploram o sonho dos meninos de serem jogadores de futebol e se aproveitam da carência de recursos financeiros e econômicos das famílias. Muitos vêm de todo o Brasil para tentar a sorte nesses grandes clubes. Essa questão é bastante preocupante porque apenas uma parcela dos que tentam conseguem se tornar profissionais, que dirá atletas com fama e dinheiro. E muitos acabam sem educação, convivência familiar e comunitária", diz a promotora Clisanger.

Não é só no Rio de Janeiro que problemas têm sido constatados. Em Minas Gerais, clubes como o Atlético Mineiro e o Cruzeiro também foram pressionados recentemente a firmar acordos. No Paraná, também há discussões em curso nesse sentido. Em função da realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, as autoridades temem que o número de adolescentes explorados aumente no mesmo ritmo que o sonho de sucesso por meio do esporte. O MTE prepara uma série ações para tentar regularizar a questão. Hoje, no Brasil, nenhum clube tem cursos validados no sistema nacional de aprendizagem para fazer os registros considerados necessários pelas autoridades."

Extraido de http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=2008

Eliana Calmon debate Conselho Nacional de Justiça nesta terça na CCJ (Fonte: Agência Senado)

"A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) realiza na próxima terça-feira (28), às 14h, audiência pública para orientar a votação de proposta de emenda à Constituição que explicita e amplia as competências do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Corregedoria Nacional de Justiça (PEC 97/2011). Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha reconhecido em julgamento recente a prerrogativa do CNJ para abrir investigação contra juízes sob suspeição, os senadores entendem que o assunto deve constar do texto constitucional - e de maneira mais abrangente.

Foi convidada para essa audiência pública a atual corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon. Ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ela está no centro do debate sobre o CNJ desde que entrou em conflito com associações de magistrados por defender o poder do conselho de agir independentemente de tribunais e suas corregedorias quanto à análise de denúncias e processos contra juízes.

Também foram convidados o ex-presidente do Supremo, Nelson Jobim e o juiz do trabalho Paulo Schimidt, vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra).  

De iniciativa do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a PEC 97/11 já conta com voto favorável do relator, senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que elaborou substitutivo Substitutivo é quando o relator de determinada proposta introduz mudanças a ponto de alterá-la integralmente, o Regimento Interno do Senado chama este novo texto de "substitutivo". Quando é aprovado, o substitutivo precisa passar por "turno suplementar", isto é, uma nova votação. condensando o texto da proposta e de emenda apresentada pelo senador Humberto Costa (PT-PE).

No substitutivo, Randolfe confere poderes ao CNJ para aplicar as penas de perda do cargo e de cassação de aposentadoria aos juízes que cometerem irregularidades graves. Os mesmos poderes são conferidos ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no exame dos atos de procuradores e promotores.

"Vitaliciedade não pode ser sinônimo de impunidade. É necessário prever meios eficazes de destituir de funções tão importantes pessoas que não são dignas de as exercerem", avalia o relator no parecer.

Dever de julgar

Ao mesmo tempo em que reafirma e detalha competências do CNJ já estabelecidas pela Constituição, a PEC 97/2011 introduz "inovações substanciais" no texto constitucional, segundo ressalta Randolfe. Estão nessa condição, por exemplo, a permissão para o chefe da Corregedoria Nacional de Justiça requisitar perícias, informações e documentos - inclusive sigilosos - de autoridades fiscais e monetárias e a paralisação de processos de natureza disciplinar em curso nos tribunais caso o CNJ comece a investigar um magistrado sob suspeição.

Segundo recorda Demóstenes na justificação de sua proposta, o CNJ foi criado pela Emenda Constitucional 45/2004 (Reforma do Judiciário) com a missão de exercer o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.

"É assim porque sabidamente os tribunais não estavam, neste tema, funcionando adequadamente. A competência, assim disposta na Constituição, é expressamente concorrente, e não subsidiária, porque não pode o conselho conhecer da reclamação disciplinar e não julgá-la. Compete ao conselho receber e julgar as reclamações, e não aguardar que o tribunal de origem julgue nem tampouco devolver ao tribunal de origem para que processe e julgue", argumenta Demóstenes na proposta.

Ministério Público

A emenda de Humberto Costa também inova ao estender ao CNMP as mesmas prerrogativas definidas para o CNJ. Assim, sua corregedoria poderá instaurar e julgar, de ofício ou a pedido de qualquer cidadão, processos administrativos disciplinares contra membros do Ministério Público ou servidores de seus serviços auxiliares e aplicar - além das penas já previstas na Constituição - advertência e censura, inclusive a órgãos superiores e a seus integrantes.

Tanto a PEC 97/2011 como a emenda procuraram deixar clara a competência concorrente e autônoma do CNJ e do CNMP, respectivamente, frente às corregedorias dos tribunais para processar e julgar juízes e membros do Ministério Público denunciados por desvio de conduta.

"Com efeito, existe o risco de que as mesmas interpretações tendenciosas desenvolvidas para reduzir as competências do CNJ venham a surgir relativamente ao CNMP. O movimento de setores organizados contra a atuação do CNJ é a demonstração mais clara de que a atuação desse órgão incomoda determinados segmentos, os quais, até o advento do conselho, pareciam imunes a qualquer tipo de controle ou fiscalização", pondera Humberto Costa ao justificar sua emenda."

Extraido de http://www.senado.gov.br/noticias/eliana-calmon-debate-conselho-nacional-de-justica-nesta-terca-na-ccj.aspx?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

Governo federal promete apertar cerco contra trabalho infantil no futebol (Fonte: Repórter Brasil)

"Ministério do Trabalho e Emprego prepara fiscalização nos clubes após morte de adolescente no Vasco. Realização da Copa no país preocupa autoridades

Por Daniel Santini

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) pretende intensificar a fiscalização para coibir trabalho infantil em clubes de futebol nos próximos meses. A morte do adolescente Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, durante teste para integrar as categorias de base do Vasco, em 9 de fevereiro, fez com que este passasse a ser o tema da próxima reunião dos coordenadores da Divisão de Fiscalização do Trabalho Infantil.


"A morte do garoto impulsionou as ações que já estávamos prevendo", diz Luiz Henrique Ramos Lopes, coordenador da divisão dentro do MTE. A exploração de adolescentes, de acordo com o responsável por comandar a fiscalização do governo federal, envolve questões complexas como tráfico de pessoas, com o aliciamento de garotos em regiões pobres por olheiros vinculados a clubes grandes. O temor é que, com a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil em 2014 e das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, o número de jovens explorados aumente no país.

Adolescentes de 14 anos a 16 anos que compõem as equipes de base de clubes devem ser registrados como aprendizes, de acordo com autoridades ouvidas pela reportagem. Esta é a interpretação da lei feita pelo MTE, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e por representantes de Conselhos Estaduais de Defesa da Criança e do Adolescente. É com base nesta premissa que o MPT pretende processar o Vasco por trabalho infantil. Porta-vozes da diretoria do clube têm, porém,  uma interpretação diferente da lei. Hoje, no Brasil, nenhum clube tem cursos validados no sistema nacional de aprendizagem para fazer os registros considerados necessários pelas autoridades.

Resolução
Além da pressão do MTE, os clubes também devem sofrer pressão por parte do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), que pretende obter no Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) uma resolução reforçando a necessidade de proteção legal para os adolescentes vinculados a clubes com idades entre 14 e 16 anos.

"Estamos trabalhando também junto aos conselhos estaduais. Os clubes devem ter responsabilidade inclusive nas peneiras. A proteção deve ser integral", defende Isa Oliveira, secretária-executiva do Fórum. "O Brasil está organizando os dois maiores eventos esportivos do mundo e este é o momento de o país ter atenção especial com a criança e adolescente. Precisamos promover a cidadania, o direito à vida, e à prática esportiva saudável neste momento.  Temos dois caminhos. Ou nos omitimos e deixamos que essa exploração aconteça, ou criamos estratégias para realizar dois eventos cidadãos".

Isa destaca que, da enorme quantidade de garotos que almejam e tentam obter sucesso em carreiras esportivas, pouquíssimos são os que realmente conseguem. "Há riscos de conseqüências psicológicas. O não sucesso traz frustração, baixa estima, tudo isso para um ser humano em desenvolvimento traz prejuízos", afirma, destacando que não é pouco dinheiro que os clubes costumam lucrar com as revelações encontradas nas peneiras.


Para Carmen Oliveira, secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, é fundamental que o Brasil organize mecanismos para coibir a exploração de adolescentes antes da realização dos grandes eventos. "O país do futebol não pode ser um país em que o futebol seja um agente de violação de direitos de crianças e adolescentes. Essa imagem é muito negativa".

Ela ressalta que, mesmo na condição de aprendiz, o adolescente tem direito à educação, convivência familiar e comunitária. E lembra que, nem sempre, as violências sofridas chegam a conhecimento público. "Temos conhecimento de violações graves, mas é difícil termos denúncias. Quem vai denunciar o clube? A criança? A família, que depende do dinheiro?", questiona."

Extraido de http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=2010

Ditadura militar: "Preso em SC pode ser envolvido no 'caso Tenório Jr.'" (Fonte: Estadão)

"EVANDRO FADEL - Agência Estado

Um argentino acusado de participar de sessões de tortura nos anos 1970, durante o regime militar que governou o país, pode estar preso em Xanxerê, no oeste de Santa Catarina. Identificado como Cláudio Vallejos, de 53 anos, ele foi detido no dia 4 de janeiro, acusado de estelionato, e está recolhido provisoriamente no presídio da comarca. Procurado na Argentina, ele estaria no Brasil há vários anos.

O consulado da Argentina em Santa Catarina busca informações sobre o preso para possível pedido de extradição, mas preferiu ainda não se pronunciar. A Polícia Federal em Chapecó diz não ter recebido ainda nenhum comunicado oficial.

Vallejos, que responde a sete processos no Tribunal de Justiça de Santa Catarina - com duas condenações por estelionato - talvez seja o mesmo homem que, em 1986, revelou em uma entrevista à revista Senhor que presenciou torturas então praticadas por militares argentinos e admitiu ter matado cerca de 40 pessoas. Na entrevista, ao repórter Maurício Dias, ele se apresentou como militar e ex-integrante do Serviço Secreto da Marinha argentina.

O argentino tem documento de identidade brasileiro, embora conste que nasceu em Buenos Aires no dia 29 de maio de 1958. A data de nascimento e o mesmo nome são indícios que levam a crer se tratar da pessoa que concedeu a entrevista à revista.

Caso Tenório Jr

Entre as histórias de tortura de que ele teria participado está a do pianista Francisco Tenório Júnior, então com 35 anos, que foi a Buenos Aires em uma turnê com Vinicius de Moraes e Toquinho. Vallejos afirmou, na entrevista, que o músico foi sequestrado no dia 18 de março de 1976, sem motivo aparente, e acabou mantido preso após revelar que fazia parte do grupo de Vinicius. "Nós considerávamos Vinicius um comunista", disse. Mesmo após informes do Brasil de que Tenório não tinha militância política, ele não foi liberado. "Queriam que o Tenório dissesse algo sobre os artistas brasileiros que tinham participação política", afirmou."

Extraido de http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,preso-em-sc-pode-ser-envolvido-no-caso-tenorio-jr,840339,0.htm

Contra trabalho infantil no futebol, OIT cobra mudanças nas categorias de base (Fonte: Repórter Brasil)

"Entidade aponta problemas graves sistemáticos, incluindo violência sexual contra crianças, e cobra medidas urgentes do governo e dos clubes

Por Daniel Santini

e do adolescente Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, durante teste de futebol no Vasco, em 9 de fevereiro, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) defende que o sistema de seleção e de organização das categorias de base de todos os clubes de futebol do Brasil seja revisto. Para Renato Mendes, coordenador do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, o episódio é apenas mais um no bojo de um contexto bem mais amplo em que violências graves contra crianças e adolescentes são rotineiras. Ele defende que são necessárias mudanças profundas nas divisões de atletas mais jovens.

"A OIT solicita diálogo urgente com o Clube dos 13 [associação que reúne os principais clubes do país] para que o acesso ao esporte seja oferecido no local de residência dos jovens, sem necessidade de migração. Isso poderia ser feito por meio de um convênio com o Ministério da Educação (MEC), envolvendo a criação de escolinhas de futebol ligadas ao sistema de ensino, o que garantiria que a criança permanecesse no seio de sua família", defende o representante da OIT, destacando que a exploração é agravada pelo deslocamento dos jovens em busca de oportunidades nos grandes clubes.

"São comuns os atravessadores que se aproveitam da ilusão e desejo das crianças, e da necessidade das famílias. Existe um processo migratório muito intenso e muito sério ligado à transferência de crianças com olheiros que buscam potenciais talentos, especialmente para os clubes grandes. E são comuns os relatos de casos de violação sexual dessas crianças, especialmente dos meninos nas escolhinhas de futebol", afirma, destacando que as crianças devem ter direito a ensino, convivência familiar e comunitária, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A preocupação aumenta em função da realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e das Olimpíadas em 2016. "O Brasil precisa ter uma política para o exercício do direito ao esporte que não seja confundida com a busca desenfreada de novas celebridades esportivas. Existe resistência em se tocar no tema especialmente em relação aos eventos esportivos mundiais que acontecerão no Brasil", observa Renato, da OIT. "O estímulo para a prática de esportes está sendo tão alto que, se não houver um cuidado especial, pode ocorrer uma corrida desenfreada sem os cuidados necessários em relação à educação e formação dos atletas", complementa.

Após a morte no Vasco, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) prometeu intensificar a fiscalização contra a exploração de trabalho infantil nos principais times do país e o Ministério Público do Trabalho (MPT) anunciou que irá processar o clube por trabalho infantil.

Internato
O representante da OIT destaca ainda que, crianças em regime de internatos, devem estar sob responsabilidade legal de guardiões. "Apesar de várias escolhinhas oferecerem sistema de internato, elas não são registradas nos Conselhos de Defesa da Criança e do Adolescente, como determina a Lei", aponta. No aspecto trabalhista, o fato de os clubes não registrarem atletas de 14 a 16 anos como aprendizes é considerado grave para a OIT. "É preciso considerar elementos de proteção social e previdenciária. Se acontecer algum evento que venha a prejudicar essa criança no nível físico, intelectual ou moral, ela fica sem proteção legal, à mercê da boa vontade dos envolvidos, o que não é correto. A criança tem direitos, mesmo que isso não esteja estabelecido", defende, lembrando que os treinos de futebol nesta fase devem ter viés educativo e recreativo, e não apenas visar a melhoria de rendimento.

"No caso específico do Vasco, a pergunta a se fazer é, esse garoto que morreu, os ensinamentos e o rendimento eram adequados ao seu desenvolvimento físico e motor? Quando está fazendo ensinamento de esporte de rendimento, deve-se pensar em germinação e não em pré-seleção. Isso deveria ser enquadrado como aprendizagem. A relação com o clube esportivo deve ser regulamentada para que essa criança deixe de ser objeto de passe comercial para ser sujeito de direito", assinala. "O que passa, via de regra é que com a ilusão de ver o filho ser vencedor a família acaba não conhecendo os direitos que lhe são devidos. O sonho é tão alto que a capacidade de proteção é muito frágil. O sucesso passa a ser projeto de vida, de ascenso social".

Violência mascarada
Quem acompanha e estuda o assunto aponta a ocorrência de violências graves sendo cometidas contra crianças e jovens nas categorias de base dos grandes clubes do país. "Tem muitas situações que não chegam ao conhecimento da sociedade. Nos veículos de imprensa, sempre vemos o lado bom da história. Pessoas que deram certo como Neymar, Pato, Kaká, Ronaldo. O outro lado da história nem sempre é contado", diz Ana Christina Brito Lopes, doutoranda em sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente do Paraná.

"Até quando nossos meninos serão mercadoria? Eles são vendidos ainda crianças, acabam se tornando produto de consumo, Muitas vezes por vontade própria ou por vontade da própria família. Tudo com base no sonho de reverter a pobreza", realça a pesquisadora acadêmica.

"Culturalmente, a nossa sociedade não enxerga como uma profissionalização e muito menos enxerga os riscos. A morte deste garoto é a ponta do iceberg de uma situação grave coberta por glamour. Quantos outros milhares de garotos não chegaram a ter sucesso? O que acontece com eles? Quantos outros por terem feito exercícios excessivos ficaram com problemas na coluna, joelho ou ombro?", completa Ana. "O problema envolve questões de tráfico interno, externo, mas é tratado com muita naturalidade. Não é enxergado. Se compararmos a intensidade de alguns treinos com outras funções, é possível caracterizar a exploração entre as piores formas de trabalho infantil. Há atividades que vão causar danos à saúde. É muito difícil porque as pessoas estão fazendo o que gostam, querem fazer isso e vão assumindo esse risco". "

Extraido de http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=2011