segunda-feira, 17 de março de 2014

Promotora acusa Sabesp de ignorar sinais de risco de desabastecimento na Cantareira (Fonte: Portal dos Movimentos Sociais)

"A Sabesp tinha condições de prever a situação de desabastecimento no sistema Cantareira com até dois anos de antecedência, afirmou à RBA a promotora Alexandra Facciolli Martins, do Ministério Público Estadual em Piracicaba. Para isso, a companhia deveria ter observado a curva de aversão a risco, o sistema de monitoramento do nível das águas do reservatório, que abastece nove milhões de pessoas a Região Metropolitana de São Paulo. O instrumento indica os níveis de retirada seguros conforme a quantidade de água existente na represa.
A RBA mostrou que o nível do reservatório vem caindo continuamente desde maio do ano passado, o que demonstra que o risco de desabastecimento era, ao menos, perceptível. “Nós temos monitoramentos diários da situação. No próprio site da Sabesp tem um registro do nível dos reservatórios que é público. A gestão do sistema Cantareira tem sido feita com altíssimo risco”, disse Alexandra. Os parâmetros da curva de aversão a risco constam da outorga – documento de autorização – obtida pela companhia para explorar o sistema Cantareira, em 2004.
A promotora alerta que a medida de redução da retirada de água da Cantareira, iniciada na última segunda-feira (10), está em desacordo com as ações emergenciais estabelecidas no documento de outorga. Pela medida, a Sabesp passou a retirar 27,9 metros cúbicos por segundo (m³/s) de água da represa para a região metropolitana, contra 31 m³/s que retirava anteriormente. E mais 3m³/s para a região da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, para onde iam 5m³/s.
Mas, de acordo com a curva de risco, deveria retirar bem menos. “Quando se deixou de considerar essa metodologia que estabelece, de acordo com o volume útil dos reservatórios, a obrigatoriedade de adotar determinadas ações e limitar a vazão de retirada, a redução acabou não acontecendo. A Sabesp continuou retirando muita água, apesar do esvaziamento crescente do reservatório”, disse Alexandra.
O documento de autorização indica que, pela situação atual, a companhia deveria retirar no máximo 24,8 m³/s de água por segundo para São Paulo. Inclusive, desde que o sistema bateu em 21,9% da capacidade, em 1º de fevereiro, o volume de água retirada para a Grande São Paulo não poderia ser superior a 25m³/s. Porém, até 10 de março, a retirada era de 31m³/s, chegando a picos de 33m³/s.
Um metro cúbico equivale mil litros de água. A diferença entre o que deveria sair e o que efetivamente sai é igual a 518 mil caixas de água de mil litros retiradas por dia da represa – o suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes, segundo referência da própria companhia. Hoje (13) o nível do reservatório atingiu 15,6% da sua capacidade, o menor nível da história.
Também hoje, a companhia anunciou a redução da emissão de água para as cidades que compram o abastecimento. O volume repassado a esses municípios – caso de Guarulhos e São Caetano do Sul, por exemplo – ficará 15,5% menor nos próximos dias. A medida afetará 1,4 milhão de pessoas."

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