terça-feira, 2 de julho de 2013

Spiegel: A aliança entre a NSA e 80 corporações globais (Fonte: Vi o Mundo)

"Os chefes destas companhias negaram terminantemente que a Agência de Segurança Nacional [dos Estados Unidos, NSA] tenha tido acesso direto a seus dados. Mas há sinais de que, fora do programa Prism, dúzias de companhias trabalharam junto com a agência de inteligência dos Estados Unidos.
De acordo com documentos vistos pela Spiegel, um parceiro particularmente valioso é uma companhia que é ativa nos Estados Unidos e tem acesso a informação que cruza o país em todas as direções. Ao mesmo tempo, esta companhia, por conta de seus contatos, oferece “acesso único a outras telecoms e empresas de internet”.
A companhia está “envolvida agressivamente em dirigir o tráfico de forma a revelar sinais de interesse para nossos monitores”, de acordo com um documento secreto da NSA. A cooperação existe desde 1985, segundo o documento.
Aparentemente, não é um caso isolado. Outro documento claramente demonstra que um número de diferentes companhias também colabora. Existem “alianças com mais de 80 corporações globais apoiando ambas as missões”, diz um documento marcado top secret. No jargão da NSA, “ambas missões” se refere a defender as redes nos Estados Unidos, de um lado, e monitorar as redes no exterior, de outro. As empresas envolvidas incluem firmas de telecomunicações, fabricantes de infraestrutura de rede, companhias de software e de segurança.
Esta cooperação é uma questão extremamente delicada por causa das empresas envolvidas. Muitas delas prometeram a seus clientes confidencialidade de informações nos termos de adesão. Além disso, elas são obrigadas a seguir as leis dos países nas quais fazem negócios. Assim, os acordos de cooperação com a NSA são secretos. Mesmo em documentos internos da NSA, as empresas são citadas apenas com o uso de códigos.
Faz tempo existem relações bem próximas e bem secretas entre muitas empresas de telecomunicações e a NSA, explica [James] Bamford, o especialista em NSA. Cada vez que as parcerias são reveladas, segundo ele, são terminadas por um curto espaço de tempo e retomadas logo depois.
A importância desta forma peculiar de parceria público-privada foi enfatizada recentemente pelo general [Keith] Alexander, o chefe da NSA. Num simpósio sobre tecnologia em Washington, em maio, ele disse que a indústria e o governo precisam trabalhar bem próximos. “Não podemos fazê-lo sem sua ajuda”, ele disse. “Não podemos cumprir nossa missão sem a grande ajuda de todas estas grandes pessoas presentes”. Se considerarmos os documentos, na audiência provavelmente estavam vários especialistas de companhias que tinham fechado acordo de cooperação com a NSA.
Nas próximas semanas, detalhes da colaboração entre a alemã BND [agência de inteligência alemã] e a NSA serão o foco de um comitê parlamentar de inquérito em Berlim, responsável pelo monitoramento de serviços de inteligência. O governo alemão enviou cartas aos Estados Unidos com pedidos de informação. As questões a serem tratadas são graves. Pode um estado soberano tolerar uma situação em que meio bilhão de dados são roubados de seu território por mês por um país estrangeiro? E isso pode acontecer especialmente quando este país identifica o estado soberano como “parceiro externo” e, assim, o espiona a qualquer tempo, como agora está claro que aconteceu?
Até agora, o governo alemão não fez nada mais que perguntas educadas. Mas os dados que estão sendo revelados certamente vão aumentar a pressão na chanceler Angela Merkel e em seu governo. As eleições, afinal, estão há apenas três meses e os alemães — como Merkel sabe — são particularmente sensíveis quando se trata de privacidade.
A Biblioteca de Babel da NSA
Num conto do escritor cego Jorge Luis Borges, a Biblioteca de Babel é apresentada como talvez o mais secreto de todos os labirintos: um universo repleto de estantes conectados por uma escada espiral que não tem começo ou fim. Os que estão dentro procuram na biblioteca o livro dos livros. Envelhecem sem encontrá-lo.
Se um prédio de verdade um dia se aproximar desta biblioteca imaginária, é a estrutura atualmente em construção nas montanhas de Utah, perto da cidade de Bluffdale. Lá, na rua Redwood, existe uma placa de letras negras numa rodovia recém pavimentada. “Área restrita, sem acesso”. Em documentos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, número 1391, página 134, os prédios atrás da placa recebem a denominação de projeto 21078. Referem-se ao Centro de Dados de Utah, quatro grandes galpões cheios de servidores que custaram um total de U$ 1,56 bilhão.
Construídos por 11 mil trabalhadores, os prédios servem como depósito para tudo o que é capturado pela rede de espionagem dos Estados Unidos. Sua capacidade em breve vai ser medida em yottabytes, ou seja, 1 trilhão de terabytes ou um quadrilhão de gigabytes. Os discos rígidos padrão vendidos nas lojas tem capacidade de cerca de 1 terabyte. Quinze deles podem armanezar todo o conteúdo da Biblioteca do Congresso.
O homem que primeiro tornou públicas informações sobre o arquivo de Utah — provavelmente quem mais sabe sobre a NSA —  é James Bamford. Ele diz: “A NSA é a maior, mais cara e mais poderosa agência de inteligência do mundo”.
Desde os ataques de 11 de setembro, a força de trabalho e o orçamento da NSA tem crescido constantemente. A Spiegel teve acesso a dados confidenciais da NSA em documentos de Snowden. Estatísticas de 2006. Naquele ano, 15.986 militares e 19.335 civis trabalhavam para a NSA, que tinha um orçamento anual de U$ 6,115 bilhões. Estes números e estatísticas mais recentes são oficialmente confidenciais.
Em outras palavras, existe uma boa razão para que o chefe da NSA, Keith Alexander, seja chamado de “Imperador Alexandre”. “Keith consegue tudo o que quer”, diz Bamford.
Ainda assim, Bamford não acredita que a NSA cumpra totalmente a missão para a qual foi destacada. “Não tenho dados demonstrando que o monitoramento vastamente expandido da NSA tenha evitado atividades terroristas”, ele diz. Existe algo, no entanto, que a NSA foi capaz de prever perfeitamente: onde estão as maiores ameaças para seus segredos. Em documentos internos, a agência identifica terroristas e hackers como ameaças em potencial. Mais ameaçador ainda, dizem os documentos, seria se algum funcionário decidisse denunciá-la.
Alguém como Edward Joseph Snowden."

Fonte: Vi o Mundo

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