quinta-feira, 28 de abril de 2011

“Ritmo irregular de obras nas usinas do Norte gera dúvidas” (Fonte: Valor Econômico)

“Autor(es): Gleise de Castro | Para o Valor, de São Paulo


Cercados de polêmica, os quatro grandes projetos de energia que estão sendo desenvolvidos no norte do país caminham em velocidade irregular. Enquanto as obras de Belo Monte e Teles Pires mal saíram das pranchetas, as de Jirau e Santo Antônio foram aceleradas para ficar prontas um ano antes do previsto. Mas os recentes quebra-quebras e paralisação de operários nestas duas últimas colocou em dúvida se sua conclusão vai mesmo ser antecipada. Os cronogramas oficiais prevêem que a energia nova comece a ser produzida em dezembro de 2012, quando entra em operação a primeira turbina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, e chegue a seu ponto máximo em janeiro de 2019, data prevista para começar a funcionar a última turbina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Quando estiverem prontas, a um custo de R$ 22,9 bilhões, as quatro usinas vão acrescentar 19.953 MW à atual capacidade de produção do país, o equivalente a 17,5% do total que pode ser gerado hoje.
A sete quilômetros de Porto Velho (RO) e com 31 meses de construção, a hidrelétrica de Santo Antônio está com 50% das obras civis concluídas, segundo a Construtora Norberto Odebrecht, que lidera o grupo de empresas à frente da construção da usina. A construtora mantém a meta de entregar o empreendimento um ano antes do previsto. Com isso, em dezembro de 2011 deve começar a funcionar a primeira das 44 turbinas. A última deve entrar em operação em novembro de 2015. A construção e operação futura da usina é responsabilidade da concessionária Santo Antônio Energia, formada por Furnas Centrais Elétricas (39%), um fundo de investimento (FIP) formado por Banif, Santande r e FI-FGTS (20%), Odebrecht Investimentos em Infraestrutura (18,4%), Odebrecht Engenharia e Construção (1%), Andrade Gutierrez (11,6%) e Cemig (10%).
Segundo a Odebrecht, o projeto já exibe o vertedouro principal com suas 15 comportas, além do primeiro grupo gerador, com capacidade para oito turbinas do tipo bulbo. Com investimentos de R$ 15,1 bilhões, a hidrelétrica de Santo Antônio será a terceira maior do país em energia assegurada. Sua capacidade, de 3.150,4 MW, será suficiente para abastecer 11 milhões de residências.
As obras de Jirau, também no Madeira, em Rondônia, foram igualmente adiantadas. A entrada em operação da primeira turbina havia sido antecipada de janeiro de 2013 para março de 2012. Mas isso ficou em suspenso depois que o governo resolveu pressionar para que o adiantamento fosse revisto, por ter concluído que a antecipação do prazo contribuiu para o motim dos operários ocorrido em março. Para acelerar as obras, a Camargo Corrêa, responsável pela construção de Jirau e também sócia do projeto, com 10%, teria contratado mais trabalhadores, elevando o total a 26 mil pessoas, além de terceirizar serviços, criando uma situação que levou à revolta. A empresa não quis se pronunciar sobre o cronograma.
Os consórcios vencedores dos leilões montaram uma equação que depende do adiantamento das obras. Os preços de venda da energia a que se comprometeram, e que lhes garantiram a vitória, ficaram muito abaixo do teto estabelecido pelo governo. No caso de Santo Antônio, a energia será vendida por R$ 78,87/ MWh, 35,4% abaixo da marca fixada pelo governo. No caso de Jirau, o deságio foi de 21,16%. O mesmo aconteceu com a usina de Teles Pires, que será construída no rio Teles Pires, entre Mato Grosso e Pará. No leilão de dezembro, ganhou o consórcio que ofereceu o menor preço até agora, de R$ 58,35/ MWh, com deságio de 32,9%. Só Belo Monte, o projeto que enfrenta os maiores problemas, teve deságio comparativamente modesto, de 6,1% (R$ 77,97/ MWh). Para compensar os preços reduzidos, a solução foi antecipar em um ano a conclusão das obras. Começando a vender antes, os consórcios antecipam receita.
Mas esse não é o cenário mais provável, na visão dos analistas. Para eles, o adiantamento deverá ser revisto. "Depois da confusão, não sei se vão conseguir manter o ritmo previsto. Provavelmente não será o mesmo prazo. Ele deve ficar entre o original e o previsto antes da greve", diz Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ (Coppe). "O cronograma antecipado para 2011 e 2012 fica cada vez mais comprometido com os impasses em Jirau e Santo Antonio", concorda Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace).
A usina de Belo Monte, projeto que acumula um histórico de problemas e que teve seu leilão suspenso duas vezes, deve começar a operar a primeira turbina em março de 2016. A última turbina está prevista para começar a funcionar em janeiro de 2019. Vai custar R$ 19,6 bilhões e por enquanto só foram iniciadas as obras de terraplanagem para melhorar o acesso ao local onde a usina será construída. Com capacidade de 11.233 MW, será a segunda maior do país, depois de Itaipu, e a terceira do mundo.”


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