quinta-feira, 17 de março de 2011

“Energia será tema de Dilma e de Obama” (Fonte: Correio Braziliense)


“Energia sobre a mesa
Autor(es): Isabel Fleck e Rosana Hessel

 Operários trabalham no Planalto para tudo ficar pronto a tempo da visita do presidente dos EUA, no sábado. A agenda de discussões, no entanto, já ficou definida. Pré-sal e biocombustíveis estão na pauta.
Revoltas no mundo árabe e o desastre nuclear no Japão recolocam a dependência do petróleo entre as preocupações centrais dos EUA. Na conversa com Dilma, Barack Obama tratará do pré-sal e da parceria em biocombustíveis


O Palácio do Planalto, recém-reinaugurado, passa por retoques para receber o presidente dos Estados Unidos: na breve passagem por Brasília, o visitante também conhecerá o Itamaraty
Se na calmaria a energia já seria tema essencial na conversa entre os presidentes de Brasil e Estados Unidos, em meio a uma grave crise no Oriente Médio, e com a opção nuclear sob crescente questionamento, o assunto deverá predominar na agenda de Barack Obama e Dilma Rousseff, que se reunirão sábado no Palácio do Planalto. A instabilidade no mundo árabe, que ajudou a elevar a cotação internacional do petróleo, faz com que o líder do país que mais importa e consome essa commodity chegue a Brasília para buscar algo além, visando a ampliar a segurança energética dos EUA. Um dos sinais é a presença na comitiva do secretário de Energia, Steven Chu.

A Casa Branca já adiantou seu interesse em uma parceria cada vez mais ampla com o Brasil na área — que englobaria desde a compra de petróleo e a perfuração das reservas do pré-sal até a cooperação em nível global sobre biocombustíveis e outras formas de energia limpa. Segundo o vice-conselheiro nacional para assuntos econômicos, Mike Froman, há uma “parceria estratégica natural” entre os dois países nessa área, por exemplo, na perfuração em águas profundas. Um possível acordo para compra de petróleo do pré-sal, no entanto, ainda deverá demandar tempo, pois qualquer leilão de novas áreas de exploração dependerá da aprovação do novo projeto de lei sobre os seus royalties — as discussões serão retomadas ainda neste semestre pelo Congresso.

Hoje, os EUA dependem de petróleo exportado por países sujeitos a instabilidades. Na América Latina, um dos principais fornecedores é a Venezuela de Hugo Chávez, que está longe de ser um aliado político. Em primeiro lugar está o México. O restante vem do Oriente Médio, de exportadores como a Líbia de Muamar Kadafi, que enfrenta uma guerra civil.
Gustavo Moreno/CB/D.A Press
 
Assessores do Planalto acompanham os preparativos para a chegada de Obama, que vai subir a rampa
O Brasil tem aguçado o interesse do mercado internacional. O jornal britânico Financial Times ressaltou o potencial das reservas do pré-sal em um artigo publicado ontem, no qual destacou que o país poderá saltar da 15ª para a quinta colocação no ranking das maiores reservas petrolíferas. “Como aqui não há conflitos étnicos ou religiosos, o Brasil acaba sendo um parceiro mais seguro e confiável do que Venezuela e os países árabes”, disse o especialista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Segundo ele, a China fez um acordo pelo qual adiantou empréstimo de US$ 10 bilhões para que a Petrobras exporte, por 10 anos, 200 mil barris de petróleo por dia. Além disso, o Brasil desperta interesse dos EUA por ser mais próximo geograficamente.

O especialista norte-americano Mark Katz, da George Mason University, concorda que as reservas brasileiras são uma boa opção para os EUA, tanto para compra como para exploração. “O Brasil pode definitivamente ser parte da solução para os problemas de energia dos EUA. É muito mais estável que o Oriente Médio, a Rússia e a Venezuela.” A predominância das discussões entre Obama e Dilma sobre uma agenda energética também parece ser inevitável, já que essa é a área na qual a presidente brasileira tem maior experiência e conhecimento de causa.
Etanol
 
Em 2007, Brasil e EUA assinaram um memorando de entendimento para a cooperação em biocombustíveis, tanto em base bilateral quanto como em ajuda triangular com outros países. Desde então, a parceria avançou bastante na América Central e na África. Hoje, a discussão entre os dois países tem como foco também o interesse mútuo em transformar o etanol em commodity negociada no mercado internacional, como o petróleo. “O momento atual é propício para que essas conversas ocorram, e o Brasil poderia aproveitar para negociar a quebra das barreiras comerciais dos EUA às exportações de etanol brasileiras para lá”, aconselha Pires.

Atualmente, o governo americano subsidia os produtores locais de etanol com US$ 0,45 por galão, e além disso impõem ao etanol brasileiro uma tarifa de US$ 0,54 por galão. Combinadas, as medidas impedem que o nosso álcool seja competitivo no mercado americano. O embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, assegurou que haverá avanços nas negociações sobre o desenvolvimento conjunto do etanol.

Agora, em meio aos temores de um novo acidente nuclear no Japão, a busca por energias limpas volta a ser prioridade na pauta energética bilateral. “O biocombustível retoma o centro das discussões mais uma vez, especialmente nesse momento em que a energia nuclear voltou a ser o patinho feio”, disse.
Mais política no Chile

A Casa Branca adiantou ontem alguns dos principais temas do discurso que Obama fará no Rio de Janeiro. Segundo o conselheiro adjunto para a Segurança Nacional, Ben Rhodes, o presidente se concentrará nos valores comuns entre os dois países, como democracia, inclusão social e diversidade, além de ressaltar o papel mundial do Brasil. Será no Chile, contudo, que Obama falará sobre a política de seu governo americano para a América Latina, segundo a Casa Branca. Sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas, o assessor manteve uma postura vaga. Assegurou que a reforma dos organismos internacionais entrará na pauta, mas evitou falar de um apoio explícito à pretensão do Brasil a um assento permanente no conselho.”

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