segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Furnas pôs aliado de Cunha em obras do PAC" (Fonte: O Globo)

"Ex-presidente da Cedae condenado pela Justiça, Aluízio Meyer é diretor de três empresas vinculadas à estatal

O engenheiro Aluízio Meyer de Gouvêa Costa, ex-presidente da Cedae e afilhado político do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acumula o cargo de diretor técnico de três empresas contempladas, no governo passado, por obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o setor elétrico. Ele foi indicado aos cargos pela direção de Furnas Centrais Elétricas, que detém 49% do capital dessas empresas.

 Condenado por improbidade administrativa na Cedae (2003-2005) e denunciado por envolvimento no escândalo das ONGs no governo Rosinha Garotinho, Meyer dirige hoje a área técnica da Transenergia Renovável, da Transenergia São Paulo e da Transenergia Goiás, sociedades com propósito específico (SPEs) responsáveis pela construção de linhas de transmissão e subestações em Goiás e São Paulo. Juntas, as três pleiteiam financiamentos de quase R$200 milhões junto ao BNDES.

 Dos três lotes de obras arrematados pelo grupo Transenergia em leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apenas um bloco de linhas em Goiás (rede básica em Quirinópolis) já está com as obras em andamento.

 Problemas ambientais impedem a concessão de licença de instalação para as outras obras - uma delas, o trecho Niquelândia-Barro Alto, passará dentro de uma reserva indígena. Sem esse sinal verde, as empresas enfrentam dificuldades para a concessão dos empréstimos pedidos ao BNDES - um para cada sociedade, sendo de maior valor (pouco mais de R$100 milhões) o pedido feito pela Transenergia Renovável.
 Outro aliado de Cunha teve negócios com Furnas

 Aluízio Meyer é o segundo ex-presidente da Cedae, ligado a Eduardo Cunha, a gerir empresas associadas à Furnas. O outro é Lutero de Castro Cardoso, que foi diretor do grupo Gallway em 2008, quando uma das suas filiais, a Serra da Carioca II, participou temporariamente de uma sociedade com a estatal para a construção da usina hidrelétrica de Serra do Facão (GO).

 A parceria, desfeita sete meses depois de efetivada, pode ter dado prejuízos de até R$100 milhões à Furnas. Alvo hoje de investigações do Tribunal de Contas e da Controladoria Geral da União, a sociedade foi abandonada pela Serra da Carioca II depois que o BNDES se recusou a autorizar o financiamento da obra.
 Na ocasião, o banco teria apurado que a sede da Gallway ficava em paraísos fiscais e que seus diretores estavam envolvidos em fraudes no mercado financeiro. Para integralizar a sua participação na sociedade com Furnas, a Serra da Carioca II contraiu empréstimo junto ao ABN AMRO Real. Como não pagou, Furnas foi obrigada pelos outros sócios na construção da usina de Goiás a cobrir o calote.

 Desde agosto de 2007, quando o ex-prefeito Luiz Paulo Conde assumiu a presidência da empresa, Eduardo Cunha exercia influência sobre o comando de Furnas. Mas este ciclo chegou ao fim na semana passada, com a substituição do então presidente, Carlos Nadalutti, por Flávio Decat.

 O aparelhamento político de Furnas, atribuído ao PMDB fluminense, motivou um dossiê elaborado por engenheiros da estatal. O documento intitulado "Furnas - preocupação dos seus trabalhadores" atribui à "gestão Eduardo Cunha" uma série de desvios administrativos, a troca injustificada de antigos gerentes e aponta "o desrespeito às leis, estatutos e regulamentos que regem o mundo corporativo".

 Depois da divulgação do dossiê, Dilma substituiu Nadalutti, também ligado ao PMDB, por Decat, nome técnico. Irritado, Cunha acusou setores do PT de estarem por trás da denúncia e ameaçou retaliar.
Cunha continua pressionando por cargos

Desalojado de Furnas, o deputado fluminense estaria agora, concluída a votação do salário mínimo, negociando uma lista com 19 nomes para acomodação no governo. Fontes do Palácio do Planalto contam que ele procura um nome técnico para indicar para a diretoria Internacional da Eletrobras e quer apadrinhar também a manutenção de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras.

Funcionário aposentado de Furnas, Aluízio Meyer é ligado a Cunha pelo menos desde 2000, quando sucedeu o padrinho político na presidência da Companhia Estadual de Habitação (Cehab). O engenheiro aparece na lista de doadores da campanha de Cunha para deputado federal em 2002.

Por conta do envolvimento no escândalo das ONGs, no qual empresas fantasmas foram usadas para justificar a saída de recursos do governo fluminense, simulando a contratação de serviços e venda de bens inexistentes, Meyer chegou a ter os bens bloqueados pela Justiça estadual.

O engenheiro passou pela Secretaria Executiva da Agetransp antes de ser escolhido por Furnas, em julho de 2009, para a direção técnica das três SPEs Transenergia, sociedades das quais também fazem parte as construtoras Delta e J.Malucelli. Embora Meyer assegure que receba R$21,5 mil mensais pelos cargos acumulados, as planilhas de Furnas informam que ele ganharia o triplo deste valor.
Situação de Meyer será decidida hoje

Furnas Centrais Elétricas alega que, ao indicar Aluízio Meyer para diretor técnico de três empresas Transenergia, levou em conta a carreira do ex-funcionário: "O currículo do profissional indicado foi submetido a todos os sócios que aprovaram a contratação do mesmo, que até o momento vem desempenhando suas funções dentro das sociedades."

 Em nota, a empresa disse que, após ser procurada pelo GLOBO, apurou no site do Tribunal de Justiça do Rio a existência de decisão judicial recente, publicada no dia 2 (condenação por improbidade administrativa na Cedae): "As providências cabíveis serão tomadas na segunda-feira próxima (hoje)", informou.

 A nota também diz que, por acordo de acionistas, coube a Furnas indicar o diretor técnico, obrigatoriamente, funcionário, ex-funcionário, ou profissional com vínculo empregatício por mais de cinco anos - Meyer trabalhou na estatal de 1976 a 1998. Furnas informou ainda que a parceria com a Transenergia foi aprovada pela diretoria e pelo conselho de administração da estatal e da Eletrobras.
 Meyer neza ligação com Cunha

 Meyer negou que tenha chegado à direção técnica das Transenergia por indicação de Cunha. Embora admita conhecer o deputado do PMDB, disse que não o vê há tempos:
 - Ele até ficou chateado comigo, em 2005, quando eu pedi demissão do cargo de presidente da Cedae. Naquele gesto, demonstrei desapego ao poder. Minha vida sempre foi pautada pela completa lisura.

 Meyer disse que, depois de se aposentar em Furnas e assumir cargos na administração estadual, perdeu o sossego. Ele se diz injustiçado pela decisão que o condenou, no início do mês, por improbidade administrativa na Cedae, por contratação de funcionários sem respeitar a exigência de concurso.
 - Apresentei provas à Justiça de que insisti com a governadora Rosinha em contratar os concursados -- disse.

 Em nota, o deputado Eduardo Cunha negou ter sido o responsável pela indicação de Aluízio Meyer para dirigir as empresas Transenergia:
 - Não tenho nada com a indicação de Aluizio Meyer e sequer sei o que é Transenergia."

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