terça-feira, 9 de agosto de 2011

Trabalhadores vão exigir ganho real (Fonte: Correio Braziliense)

"Mesmo com a economia em dificuldades, categorias prometem greve caso não haja acordo
A redução da projeção de crescimento da economia anunciada ontem pelo Banco Central e as turbulências vividas nos Estados Unidos e em países da Europa vão aumentar o confronto entre patrões e empregados em todo o Brasil. Em pleno período de negociação salarial, dezenas de sindicatos, como os dos bancários, dos metalúrgicos e dos petroleiros, prometem radicalizar caso as empresas não concedam reajustes reais. Para eles, de nada valem os argumentos dos empresários para diminuir o seu poder de barganha. As categorias garantem que, se as companhias não cederem à pauta de reivindicações de mais de 15 milhões de trabalhadores no país e não oferecerem ganhos reais, a promessa de uma onda de greves vai se confirmar.
No último fim de semana, os petroleiros definiram que querem aumento real de 10%, revisão do plano de cargos e salários e melhores condições de trabalho, entre outras bandeiras. "Os economistas conservadores têm a tese de que o aumento dos salários causa mais inflação. Se essa visão prevalecer, certamente o caminho será cruzar os braços", avisou João Antônio de Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Os bancários, no próximo dia 12, vão entregar à Federação Nacional dos Bancos um pedido de reajuste de 12,88%. Do total, 7,5% referem-se à reposição da inflação acumulada em um ano, e o restante, a um aumento real de 5,3%. Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, argumenta que, mesmo se o ritmo de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) diminuir, não há justificativa para os banqueiros imporem barreiras.
"O setor tem apresentado lucros expressivos. No ano passado, eles queriam repor apenas a inflação, porém concederam aumento real de 3,8%. Há sempre uma choradeira. Mas já sabemos como funciona e, se necessário, vamos fazer uma greve maior do que a dos anos anteriores", afirmou. "Se quisermos nos fortalecer para enfrentar a situação interna e o cenário externo, precisamos aumentar o poder de consumo da população", completa Arthur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores.
Bom momento
A orientação da Força Sindical, que tem 1,4 mil entidades associadas, também é para que os trabalhadores parem as atividades caso não sejam atendidos. Conscientes dos bons ventos que sopram sobre o mercado — no ano passado, foram criados 2,8 milhões de empregos —, eles consideram que estão em um bom momento para negociar. "Só vamos pedir menos se houver desemprego", diz o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.
Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio, estima que a taxa de desemprego, hoje em 6,2%, deve fechar o ano abaixo de 6%. "Não temos muita gente procurando emprego. E os trabalhadores vão usar isso para pressionar os empresários", destaca. Com data-base em setembro e em novembro, os metalúrgicos de São Paulo devem enfrentar dificuldades na mesa de negociação. Ontem, a General Motors deu o primeiro sinal. A companhia anunciou férias a 300 funcionários da fábrica de São José dos Campos (SP) entre 22 de agosto e 4 de setembro.
Impacto
O mercado de trabalho sentiu os efeitos da crise financeira internacional de 2008. As consequências do abalo foram sentidas, principalmente, entre março e junho do ano seguinte, quando a taxa de desocupação chegou perto de 9%, ante 6,8% em dezembro de 2008. O aumento no índice de desemprego foi puxado por demissões na Vale e na Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. Para especialistas, as categorias devem se preparar para os efeitos da crise, que devem ser mais visíveis em 2012. "Em 2011, teremos aumento do salário mínimo próximo a 14%. Em contrapartida, a economia também não deverá ter um crescimento extraordinário", prevê Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio."

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