quarta-feira, 27 de abril de 2011

“Em relatório, Aeronáutica tentou negar atentado” (Fonte: O Globo)


“Autor(es): agencia o globo: Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Relatório confidencial da Aeronáutica mostra que o serviço secreto da instituição criou uma versão para tentar inocentar os militares envolvidos no atentado ao Riocentro, em 30 de abril de 1981. O documento confidencial - escrito no III Comando Aéreo Regional (Comar) em 7 de maio de 1981, uma semana após o atentado - desqualifica a informação, divulgada pelos jornais da época, de que a explosão foi resultado de uma fracassada tentativa de militares de extrema direita de cometer um atentado e, com isso, forçar um retrocesso na incipiente abertura política no país. O inquérito, concluído em 2000, responsabilizou o capitão Wilson Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário pela fracassada manobra.

O relatório do III Comar faz parte do acervo de 50 mil documentos que Arquivo Nacional liberou à consulta pública há duas semanas. "A imprensa, aproveitando a oportunidade, passou a explorar o fato de forma sensacionalista e tendenciosa. Os militares são apresentados como terroristas, acusados e condenados sem qualquer prova ou fundamento, sem nenhuma chance de defesa, dentro da técnica da orquestração nos periódicos na área, com reflexos em todo o país", diz o documento, de três páginas.

No texto, distribuído naquele período por todo o aparato de repressão da ditadura, o serviço secreto tenta negar até a existência de mais duas bombas no banco traseiro do Puma, onde estavam o capitão e o sargento, no momento da explosão. "A notícia veiculada dando conta que existiria outros artefatos explosivos no interior do veículo é falsa", diz o documento. Pela versão militar, "os cilindros apresentados pelas câmeras, como se fossem bombas, são apenas 2 (dois) tubos fumígenos portados por um dos soldados da Polícia Militar encarregados de isolamento do local".

Em reportagem no GLOBO de ontem, o corretor de imóveis Mauro César Pimentel confirma a existência dos dois artefatos no banco traseiro do Puma. Os dois artefatos seriam similares à bomba que explodiu no colo do sargento Rosário. Pimentel teria visto os dois artefatos ao passar pelo Puma do capitão Machado, no estacionamento. O corretor era, naquela época, um dos muitos jovens que foram Riocentro para assistir aos shows do 1º de Maio, promovidos pelo Centro Brasil Democrático.

No texto, o serviço secreto tentou responsabilizar a esquerda: "Pelo que foi exposto, verifica-se que a imprensa infiltrada da área de há muito vem trabalhando no sentido de formar uma opinião pública desfavorável às ações das Forças Armadas em relação à defesa interna". Para os arapongas, a campanha criou na sociedade uma "imagem negativa dos órgãos de segurança, podendo haver alcançado até o público interno". Naquele momento, os serviços de inteligência já estariam "detectando levantamentos de seus agentes, e até mesmo de organizações militares, por elementos de esquerda, com o objetivo único de desmantelar ou destruir o aparato repressor".

O relatório sustenta ainda que "o crime terrorista perpetrado está sendo investigado e todo o esforço vem sendo realizado para identificar sua origem". Mas o primeiro inquérito policial militar não apontou culpados. Só com a reabertura do caso, duas décadas depois, é que a investigação responsabilizou os dois militares pela explosão.

Pela nova apuração do caso, os dois militares planejavam cometer o atentado no Riocentro e, com isso, tumultuar a abertura política. O plano fracassou. Uma das bombas explodiu antes do momento previsto, matou o sargento Rosário e deixou ferido o capitão Machado. A primeira investigação oficial foi encerrada sem apontar culpados.”

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