quinta-feira, 11 de novembro de 2010

“O doce amargo do açúcar” (Fonte: CUT)

"Contac leva à África experiência brasileira de luta contra abusos da indústria da cana
Escrito por: Leonardo Severo  
A convite do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Açúcar de Moçambique, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Alimentação (Contac/CUT), Siderlei de Oliveira, levará ao país africano a experiência brasileira de luta contra os abusos da indústria da cana, "cada vez mais dominada por capital estrangeiro, alemão, francês e norte-americano".  
A desnacionalização crescente do campo, frisa, fez o próprio governo brasileiro limitar a possibilidade de aquisição de terras por estrangeiros. O
encontro do Ramo, que acontece entre os dias 14 e 16 de novembro na capital, Maputo, visa capacitar as principais lideranças sindicais moçambicanas para o enfrentamento à chegada do agronegócio açucareiro em terras africanas.
"Com certeza, grande ênfase deve ser dada à saúde e segurança no trabalho, como ação preventiva diante dos abusos do capital", alerta Siderlei, que fará uma exposição sobre "O doce amargo do açúcar".
A solidariedade será o ponto alto do evento, aponta Siderlei, comprometido em exportar nossa experiência acumulada, "tanto positiva como negativa", num setor que emprega cerca de 3,6 milhões de trabalhadores. Destes, aponta, 1,4 milhão são empregos diretos, em canaviais que se espalham por 7,8 milhões de hectares em 20 Estados brasileiros, num total de 400 indústrias e 70 mil fornecedores de cana. Hoje o Brasil é o maior produtor de cana do mundo, seguido pela Índia, gerando álcool combustível e, mais recentemente, biodieseL.
Sobre as péssimas condições de trabalho a que se vê submetida esta mão de obra, o sindicalista lembra que "há 15 anos, um trabalhador que cortou 4,5 toneladas diárias completava sua jornada; hoje, nenhuma empresa contratará alguém que corte menos de 9 toneladas diárias". "Agora, a indústria açucareira está se deslocando para os países africanos e atuará nos mesmos moldes que trabalha aqui: longas e penosas jornadas, pagamentos rebaixados, um sem número de lesões, mutilações e mortes, inclusive por estafa. O número de mortos devido a esse violento  esforço físico feito para cortar a cota diária, e assim garantir o sustento da família, chega a 400 trabalhadores nos últimos quatro anos, o que é inadmissível", sublinha.
Conforme o presidente da Contac, neste momento o setor está em plena transformação, com as máquinas substituindo os trabalhadores. "Atualmente os índices mostram que o corte de cana fechou cerca de 120 mil vagas, apenas em São Paulo. A mecanização da lavoura fará os empregos de 1,4 milhões de trabalhadores do país se reduzirem a 400 mil operadores de máquinas".
Diante desta tendência à mecanização, que é uma conseqüência natural, avalia Siderlei, as entidades sindicais precisam estar mobilizadas e pressionar para garantir junto aos governos e empresários uma política de reciclagem e qualificação profissional em grande escala. No Nordeste, por exemplo, aponta Siderlei, estamos buscando qualificar na área da construção e da metalurgia. "Para o conjunto do país, talvez a opção seja adaptar esses profissionais no próprio Ramo alimentício, nas avícolas ou frigoríficos, à medida em que cresce o nosso mercado interno".

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